Formar multiplicadores na missão de preservar o meio ambiente. Esse é o objetivo do Centro de Engajamento Noronha Plástico Zero, inaugurado nesta terça-feira (12) no arquipélago de Fernando de Noronha. O espaço é agora um dos braços do Programa Noronha Plástico Zero, desenvolvido desde que o Decreto Distrital 02/2018, que proíbe a entrada de descartáveis na ilha, entrou em vigor, em abril deste ano.
O centro é fruto da parceria entre a Administração da ilha e a Heineken, que investiu R$ 1,5 milhão na construção do espaço. A iniciativa conta ainda com apoio de entidades da sociedade civil, como a Menos 1 Lixo e a Iönica. O local se dedicará a ações de educação ambiental, oferecendo palestras e atividades a moradores e turistas diariamente, das quartas (10h às 22h) aos domingos (10 às 19h).
“O centro traz a comunidade pra dentro de um projeto importante, que nos fez dar grandes passos na gestão de sustentabilidade. E a gente só faz isso com união, união entre poder público, o setor privado e sociedade civil”, defende Guilherme Rocha, administrador da ilha de Fernando de Noronha.
A problemática do lixo e, sobretudo, do plástico, é urgente. Por ano, a administração da ilha gasta com resíduos sólidos um terço dos R$ 36 milhões arrecadados com a Taxa de Preservação Ambiental (TPA). “Precisamos que essa política do plástico zero seja efetiva. Isso precisa ser feito com protagonismo da comunidade. Por isso, não temos a intenção de fiscalizar ou punir. Aqui, o nosso trabalho será o de educar, o de formar multiplicadores”, argumenta Túlio Silas, articulador local do programa.
O Plástico Zero tem como missão promover ações em quatro eixos, os chamados “quatro Rs”: repensar, regenerar, reutilizar e ressignificar. O espaço inaugurado nesta terça-feira é voltado para o “repensar”, promovendo aos visitantes uma experiência imersiva sobre a história e trajetória do plástico. A formação de agentes multiplicadores faz parte do eixo "regenerar". Outro pilar do programa é a distribuição de copos e canudos descartáveis aos 6 mil moradores da ilha, dentro do conceito de "reutilizar".
Pelo "ressignificar" está um outro braço do projeto, voltado para a conscientização quanto ao descarte de vidros. "O programa tem foco no plástico, mas acaba que o plástico é a porta de entrada para debatermos um problema que é muito maior, por isso estamos tratando também da reutilização do vidro", afirma Silas. Na ilha, apenas 30% do vidro é reciclado.
O decreto assinado em dezembro é inédito no País. Noronha proibiu a entrada, o uso e a comercialização de itens descartáveis plásticos, como garrafas com menos de 500 ml, canudos, talheres, copos, sacolas de supermercado, além de isopor e objetos compostos por materiais como polietilenos, polipopilenos ou similares. A determinação vale também para bares, restaurantes, quiosques, ambulantes, hotéis, embarcações, pousadas, entre outros estabelecimentos comerciais. A multa pelo descumprimento é de um salário mínimo, que pode ser multiplicado por reincidência.
Para Guilherme Rocha, a iniciativa já tem mostrado resultados. "No primeiro mês de vigência do decreto, entre abril e maio, apreendemos 350 quilos de plástico. Já no segundo mês, esse número caiu para cinco quilos." A meta é chegar a 2030 com uso do plástico zero na ilha.
Morador de Fernando de Noronha desde 1958, Renê Jerônimo de Araújo, hoje com 79 anos, aprova as mudanças. "Esse projeto, ao meu ver, é fantástico. As pessoas precisam se voltar para a ilha, para as necessidades da ilha, precisam ser educadas a pensarem nela. Quem não gosta de desenvolvimento? É muito bom ver o desenvolvimento de Noronha, mas me preocupa o desenvolvimento descontrolado. Ele precisa ser sustentável", argumenta.