Ex-número 2 do MEC afirma que Enem digital segue tendência mundial

'O mundo todo está caminhando para provas digitais', afirmou Maria Helena Guimarães de Castro
JC Online
Publicado em 04/07/2019 às 11:41
'O mundo todo está caminhando para provas digitais', afirmou Maria Helena Guimarães de Castro Foto: Foto: Divulgação/MEC


Em entrevista à Rádio Jornal na manhã desta quinta-feira (4), a ex-secretária-executiva do Ministério da Educação Maria Helena Guimarães de Castro disse ser favorável a mudanças na prova e afirmou que a versão digital do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), anunciada nessa quarta-feira (3) pelo MEC, é uma iniciativa importante que segue tendência mundial.

“Eu sou bastante favorável a essas mudança, pois fazem muitos anos que os especialistas vêm discutindo alternativas ao Enem para torná-lo mais prático e acessível. O modelo atual da prova é bom, mas é muito caro e demanda muitos esforços. Além disso, o mundo todo está caminhando para provas digitais. Então, eu acho que é uma iniciativa importante”, disse Maria Helena, que também foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Questionada sobre a forma como a prova será aplicada e se haverá computadores para todos os estudantes que fizerem o exame, a ex-secretária ressaltou que o Inep precisa se planejar para aplicar o novo modelo e questionou se o MEC tem recursos para investir na versão digital da prova.

“Primeiro ponto é que o Inep precisa tomar muito cuidado, planejar muito bem. Como o ministério anunciou um processo de implementação até 2026, eu acredito que os cuidados serão tomado”, falou. “O MEC tem recursos para investir nesse novo modelo - porque ele vai exigir, no início, um investimento grande - e, ao mesmo tempo, manter o modelo antigo funcionando?”

Confira a entrevista:

Enem digital

O Enem digital deve começar a ser aplicado como projeto piloto em 2020, segundo anúncio do MEC, que foi recebido com um misto de entusiasmo e preocupação por especialistas da área de educação e estudantes. O modelo começa a funcionar com a abertura de 50 mil vagas, em 15 capitais (Recife entre elas). O objetivo é tornar o Enem 100% digital até 2026.

O Enem Digital já tem data: 11 e 18 de outubro de 2020. A versão tradicional será aplicada aos demais estudantes nos dias 1º e 8 de novembro. Assim, em 2020, o exame acontecerá em três datas: outubro, novembro e dezembro (reaplicação destinada a alunos prejudicados por algum problema no processo, em papel).

Entre os argumentos do governo federal está a redução de custos. “Para uma única prova, são confeccionados 18 cadernos diferentes, com custo de R$ 500 milhões. Para quanto aumentariam os custos, além da complexidade, quando o Enem tiver que se adaptar aos itinerários formativos (caminhos escolhidos por alunos com foco em determinada área do conhecimento, previstos no Novo Ensino Médio) e tivermos que fazer cinco provas diferentes?”, questionou Alexandre Lopes, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), durante coletiva de imprensa, em Brasília.

O custo da aplicação do Enem digital em 2020, para 15 mil candidatos, será de R$ 20 milhões, uma média de R$ 400 por participante. O valor é superior aos atuais R$ 100 por aluno, segundo o MEC. Presidente do Inep alega que os custos diminuirão com a ampliação do exame digital.

A redução dos custos é apontada pelo coordenador do Núcleo de Inteligência do Todos Pela Educação, Caio Sato, como uma das vantagens do novo sistema. “Existe uma possibilidade de redução de custo significativa, o que nos leva a um segundo ponto positivo: com a redução de gastos, o número de aplicações durante o ano aumentaria, dando uma segunda chance aos alunos.” Para ele, entre os benefícios ainda está um potencial aumento da segurança do exame a partir da aplicação por meio digital. “Pela logística, a distribuição precisa começar com antecedência. Com a versão digital, o tempo de sigilo aumentaria.”

A possibilidade de utilização de novos formatos também anima o especialista da Todos Pela Educação. “Podem ser utilizados gráficos interativos e vídeos, por exemplo. A estrutura do teste também poderia ser modificada, a exemplo de outras estruturas utilizadas em provas internacionais, como os chamados testes adaptativos (em que questões são colocadas de acordo com os acertos). São possibilidades que o digital abre”, defende.

De acordo com o MEC, alunos que optarem pela versão digital, realizarão a prova inteira nessa modalidade, incluindo a redação. “Se o aluno não for bom de digitação, se não tiver o costume de digitar, pode acabar sendo prejudicado?”, questiona a professora de redação do Colégio Santa Maria Ana Cristina Verdasca. Para ela, o País vive uma realidade difícil, principalmente em municípios do interior, onde não existem computadores ou sinal de internet. Além disso, segundo o ministério, o governo não comprará novos equipamentos. “Usaremos as bases já instaladas nas unidades de ensino”, disse o presidente do Inep.

Segurança

A questão que preocupa os estudantes é a segurança do exame. “O sistema pode ser hackeado ou apresentar problemas”, apontou Tiago Monteiro, 16 anos, estudante do 2º ano do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A turma dele será a primeira a realizar o Enem Digital, de acordo com a previsão do MEC. “Vou optar pelo modelo tradicional. Tenho medo que seja invalidado.”

De acordo com o ministro, fiscais estarão nos locais de prova. O presidente do Inep minimizou possíveis problemas de segurança, dizendo que “os ataques ao Enem já acontecem hoje.”

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