Quando a turminha do 4º ano da Escola Municipal do Coque, na Ilha de Joana Bezerra, área central do Recife, nasceu, há mais ou menos uma década, cartas e cartões-postais já eram coisa do passado. Comprar envelopes, selos e ir aos Correios para enviá-los parecia coisa de outro mundo. Pelo menos até um projeto desenvolvido na escola resgatar a prática e proporcionar aos pequenos a troca de correspondências com amigos de uma escola de Caruaru, no Agreste pernambucano. A iniciativa deu tão certo que o “Das Cartas aos Postais: mostrando a nossa cidade” garantiu até viagens internacionais. As crianças apresentaram as cartinhas em feiras de conhecimento de Fortaleza e da Colômbia. No próximo ano, a viagem terá como destinos Argentina e Paraguai.
Tudo começou quando a professora perguntou quais eram os meios de comunicação mais utilizados. Nas respostas, não faltaram exemplos virtuais. Facebook, Whatsapp, e-mail e telefone foram os mais sugeridos. As cartas apareceram entre as últimas opções. E foram justamente elas que proporcionaram experiências surpreendentes. Os resultados são vistos no dia a dia: todos os alunos sabem ler, a escrita melhorou e ensinar história e geografia ficou mais divertido.
“O questionamento surgiu após o convite para participarmos de um projeto idealizado pelo Centro de Estudos em Educação e Linguagem (Cieel) e a Biblioteca Popular do Coque. Começamos trabalhando o que é o gênero carta, como enviamos, o que podemos escrever. Quando eles se familiarizaram, começou a troca de correspondências e o entusiasmo aumentou”, explica a professora Rosário Neves, que desenvolveu o trabalho com a professora Fabiana Lopes.
As cartinhas foram enviadas a alunos da Escola Municipal Mestre Vitalino, em Caruaru. Depois de alguns meses de conversa sobre os pontos turísticos das cidades e a rotina do lugar onde viviam, novas amizades foram feitas e alunos do Coque foram conhecer os amigos de Caruaru, que também tiveram a oportunidade de visitar os locais que os alunos do Recife pintaram nos postais que enviaram. Uma das representantes da turma nas viagens foi Laianny Fabricy Santana, 9 anos, que aprendeu espanhol para apresentar o projeto na Feira Internacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, na Colômbia. “Eu tive um dia para conhecer o lugar e outro para apresentar. No começo eu fiquei nervosa, mas foi legal. Antes eu só sabia falar buenos dias, mas aprendi espanhol aqui e deu tudo certo”, conta.
Lucas Cândido, 9, é da mesma turma de Laianny. Ele nunca tinha enviado ou recebido uma carta. Também nunca tinha ido a Caruaru. Além de conhecer mais sobre outras partes de Pernambuco, o garoto sabe outros benefícios das cartinhas. “Minha letra e minha leitura melhoraram e eu fiquei mais entusiasmado. Eu adorei fazer isso, antes não sabia nem como enviar uma carta, agora já sei o que é remetente, destinatário, selo…”. O material foi desenvolvido em 2018 e apresentado este ano na Feira de Conhecimentos, Ciência, Tecnologia e Inovação do Recife (Fecon). As turmas das professoras Rosário e Fabiana conquistaram o primeiro e terceiro lugares e ganharam credencias para apresentar as produções, no mês passado, na Colômbia. O desempenho dos meninos rendeu convites para feiras na Argentina e no Paraguai no próximo ano.
Alunos da Escola Municipal Novo Mangue, também no Coque, ainda participaram do projeto, enviando cartas a estudantes de Caruaru, mas não viajaram.