Atualizada às 19h47
“É um contrassenso falar sobre a democratização do cinema nacional ao mesmo tempo em que há um corte de verbas na Ancine e a extinção do Ministério da Cultura", criticou o cineasta e diretor pernambucano Camilo Cavalcante. O artista se refere ao tema da redação do Enem 2019, que foi a 'Democratização do acesso ao cinema no Brasil'.
O cineasta, que é diretor do longa-metragem "A História da Eternidade" e "King Kong em Asunción", considerou positiva a discussão sobre a produção e escoamento do audiovisual no país já que, em setembro deste ano, o governo federal anunciou o corte de 43% no orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) da Agência Nacional do Cinema (Ancine).
“O cinema é a cultura de um povo e de um país. Somos catequizados por um cinema que não é nosso, então é interessante que o tema seja discutido, pelo o menos no Enem, para que a nova geração comece a questionar certos modelos que são impostos e que trazem um prejuízo imenso à cultura do povo brasileiro, que acaba não tendo oportunidades para chegar aos produtos audiovisuais autorais”, disse Camilo.
O artista também se mostrou curioso para saber como os feras irão tratar o tema. “Quero ver o que virão dessas redações. Que tipos de análise a juventude atual está fazendo sobre tudo o que está acontecendo com a cultura e com o cinema brasileiro", completou.
Na última terça-feira (29), foi assinada uma parceria com a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) para garantir a acessibilidade para pessoas cegas, surdas e autistas em salas de cinema de todas as regiões do país, uma outra forma de democratização. A ideia foi baseada na experiência de sucesso da Fundaj em Pernambuco que, desde 2017, oferece sessões inclusivas para pessoas com deficiências sensoriais. Mais de 3,5 mil pessoas já assistiram produções nacionais com acessibilidades.
Ana Farache, coordenadora do Cinema da Fundação e idealizadora e do Projeto Alumiar de Cinema Acessivel e da Sessão Índigo, também aprovou o tema. “Sempre considerei que um dos papéis do cinema, principalmente de salas públicas como as nossas e ligadas ao Ministério de Educação, é levar a experiência do cinema para um maior número de pessoas possível”.
O Projeto Aluminar de Cinema Acessível que já atraiu mais de 3 mil pessoas com deficiências visuais e auditivas às nossas salas, muitas delas nunca tinham entrado num cinema. “Recentemente, a Fundaj fechou um protocolo de intenções com o Mec no sentido de expandir os projetos Alumiar e Índigo para várias partes do país, com nossa consultoria técnica. Ficamos todos muito felizes em ver esse trabalho de inclusão ser reconhecido e se expandir, porque, sem dúvida, o cinema é para todos”, explicou a coordenadora.