Além da espera, o desconforto nas paradas de ônibus

Passageiros enfrentam não só demora, mas paradas sem proteção, sem lugar para sentar ou plcas indicativas das linhas
Wagner Sarmento
Publicado em 09/04/2013 às 6:07
Passageiros enfrentam não só demora, mas paradas sem proteção, sem lugar para sentar ou plcas indicativas das linhas Foto: NE10


A via-crúcis dos usuários de ônibus não se resume à demora na passagem dos coletivos e aos veículos lotados e sucateados. Se as estações de embarque e desembarque programadas para o Corredor Leste-Oeste e para o projeto de navegabilidade do Rio Capibaribe contarão com estrutura diferenciada, com direito a guaritas de segurança, banheiros públicos, bicicletário e plataformas com acessibilidade, a realidade das paradas ao redor do Grande Recife é bem diferente. A reportagem fez um giro ontem pela capital e encontrou pontos de ônibus em situação precária e gente insatisfeita.

Os problemas mais comuns são falta de coberta, de assentos e de placas indicando as linhas. Algumas paradas na Avenida Sul – corredor de ônibus e uma das principais ligações entre a Zona Sul e a área central do Recife – se resumem a uma placa apontando um ponto de ônibus. Nada mais. O cenário se repete na Rua Imperial e no Cais José Estelita, também no Centro.

Na Avenida Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem, Zona Sul, nem isso. Uma das mais movimentadas estações é identificada por uma pequena placa em um poste que indica “parada 13”. Os passageiros se amontoam na calçada, em pé, sob um sol que não dá trégua. Disputam a pouca sombra de um local não arborizado. “É desconfortável esperar assim. Você não tem onde sentar, não tem sombra. É um desrespeito”, diz a alemã Karola Neu, 82 anos, há seis décadas morando no Brasil. A europeia afirma que o Recife deveria adotar o exemplo de seu país. “Na Alemanha, as paradas são cobertas, fechadas nas laterais e com um letreiro que informa em quantos minutos tal ônibus chegará”, exemplifica.

O gari Róbson Jorge da Silva, 45, de muletas devido a uma hérnia de disco, sofria enquanto esperava o ônibus na volta da fisioterapia, em uma parada sem assento na Avenida Jean Emile Favre, no Ipsep, também Zona Sul. “Incomoda. Estou há um mês assim e tenho sentido na pele as dificuldades. É ruim ter de aguardar em pé”, relata.

No Largo da Paz, em Afogados, Zona Oeste, área de confluência de coletivos, a bagunça reina. O ponto de ônibus ao lado da Igreja Nossa Senhora da Paz, sempre lotado de pessoas que querem ir ao Centro, quase inexiste, escondido, sem cobertura ou assento. Alguns usuários ficam no meio da rua, se arriscando. Outros, para fugir do sol, aguardam a linha desejada dentro de pontos comerciais. Os mais cansados se sentam na escadaria da paróquia, um pouco mais afastados. O aposentado João Rodrigues de Lima, 75, teve que apelar para um guarda-chuva, uma vez que a parada é descoberta. “Por determinação médica, não posso tomar sol. Trago a sombrinha porque sei que muitos dos pontos de ônibus, como este, não oferecem proteção. É algo que precisa melhorar”, frisa.

Em nota, o Grande Recife Consórcio Metropolitano de Transporte informou que a RMR conta com 5.300 paradas em cinco modelos diferentes, desde aqueles cobertos e com assentos aos mais desprotegidos. “O que diferencia o modelo das paradas são as especificações dos locais onde elas são implantadas. Existem regras de acessibilidade que não podem ser quebradas. Cada parada dessa possui uma largura e um comprimento diferente e tudo vai depender do espaço disponível na calçada para sua implantação”, argumenta.

Leia mais na edição do JC desta terça (9)

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