Largo no Recife é do descaso e da penúria

O contraste com a igreja recém-restaurada é chocante: no Largo da Santa Cruz, a falta de manutenção rima com perigo
Do JC Online
Publicado em 30/10/2013 às 6:07
O contraste com a igreja recém-restaurada é chocante: no Largo da Santa Cruz, a falta de manutenção rima com perigo Foto: Foto: Guga Matos/JC Imagem


Uma caveira encravada bem no meio do pátio. Em uma das principais áreas históricas do Centro do Recife. A carcaça de um posto de gasolina fechado há cerca de dois anos é a representação do descaso que varre o Largo da Santa Cruz, no bairro da Boa Vista. O estabelecimento, interditado por razões de segurança, está caindo aos pedaços. Na base do improviso, o local foi cercado por fios para tentar criar algum tipo de proteção, já que os tanques de gasolina continuam esquecidos por lá. Quem olha para o alto depara-se com o abandono. A maior parte do casario que circunda o pátio secular está pedindo socorro. São cerca de dez sobrados. Apenas um está sendo recuperado.

A fiação exposta denuncia a falta de manutenção do espaço. A insegurança, que ninguém vê, faz igualmente parte da rotina de quem mora ou trabalha no largo. Há seis meses, vândalos arrombaram o que restou do escritório do posto de gasolina. Como não encontraram nada de valor, colocaram fogo no local. O risco de uma explosão povoa o imaginário de quem vive pelo pátio. "Foi preciso chamar o Corpo de Bombeiros. Como os tanques de gasolina continuam embaixo do posto, nosso medo é que possa ocorrer uma explosão", diz José Gomes de Melo, dono de um fiteiro localizado em uma das calçadas do largo.

O garçom Inácio Izídio da Silva também conta histórias de violência. O bar e restaurante onde trabalha há mais de 30 anos foi alvo de ladrões, que tentaram, sem sucesso, arrombar uma das portas do ponto comercial. A falta de policiamento facilita a ação dos bandidos. Izídio fala com tristeza da situação do pátio. "Até a década de 80 era uma coisa linda. Mas foram largando, os sobrados foram se acabando e hoje temos essa situação de desleixo total", lamenta. Saudoso, ele lembra de quando o Largo de Santa Cruz virou cenário de filme. "A senhora sabia que foram gravados dois filmes aqui? Amarelo manga e Lisbela e o prisioneiro", pergunta, já emendando com a resposta.

O passado glorioso do pátio carrega uma história que está prestes a completar 100 anos. Foi ali que nasceu a saga de um dos clubes mais amados de Pernambuco, o Santa Cruz Futebol Clube. Tudo começou em 1914 com um grupo de 11 meninos, com idades entre 14 e 16 anos, que, na falta de um campo, usavam o pátio da Igreja de Santa Cruz para jogar bola.

Construída em 1716, a igreja hoje virou um alento na paisagem de abandono que marca o largo. Reformado recentemente, o belo prédio desperta a atenção de quem passa pelo local. Mas, segundo comerciantes da área, é pouco visitado porque fica a maior parte do tempo fechado. "Quando abrem é no final de semana. Mesmo assim de vez em quando", explica José Gomes.

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