Passageiros aprovam VLT para o Cabo de Santo Agostinho e o Curado

A segunda reportagem da série sobre o patrimônio ferroviário de Pernambuco mostra as duas linhas férreas que ainda fazem o transporte público, no Grande Recife
Cleide Alves
Publicado em 27/09/2014 às 8:08
Foto: Diego Nigro/JC Imagem


Nem saudosismo e nem bucolismo. O movimento que defende a volta dos trens de passageiros no Estado de Pernambuco está fundamentado em razões práticas: o transporte sobre trilhos é uma alternativa para se fugir dos engarrafamentos nas viagens por ônibus. A velocidade nos deslocamentos ocupa o topo da lista de vantagens apontadas por usuários das duas linhas em atividade, uma para o Cabo de Santo Agostinho e outra até o Curado, na Zona Oeste do Recife, todas partindo da Estação Cajueiro Seco, em Jaboatão dos Guararapes.

“É rápido, seguro, não atrapalha o trânsito, não para em sinal e não fica preso nos engarrafamentos”, diz a comerciária aposentada Vânia Maria Ribeiro, passageira do trem para o Cabo há 40 anos. “Apesar de andar de graça no ônibus, porque já passei dos 60 anos, prefiro os trilhos”, conta aos repórteres do JC que dividiram com ela um dos vagões no trem das 11h47, segunda-feira (22).

A bem da verdade, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), operadora do sistema, substituiu as locomotivas a diesel pelo Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), movido a biodiesel, combustível derivado de fontes renováveis, como óleos vegetais e gorduras animais, menos poluente que os de origem fóssil (petróleo). A troca começou em outubro de 2011 e terminou em fevereiro de 2012.

Os nove veículos comprados custaram R$ 69 milhões. Como as janelas de vidro eram destruídas a pedradas, por vândalos, a CBTU mudou o material para poliuretano, que trinca mas não quebra.

Vânia Ribeiro passou por todas as gerações de trem – vapor, diesel e biodiesel – no período em que trabalhou no Centro do Recife. “A locomotiva a vapor vinha fumaçando e fazendo troc-troc-troc nos trilhos. Aposentaram as máquinas velhas e a viagem ficou melhor, no geladinho”, destaca.

É rápido, seguro, não atrapalha o trânsito, não para em sinal e não fica preso nos engarrafamentos

declara a comerciária aposentada Vânia Ribeiro

 

“O VLT tem ar-condicionado, hora certa para sair da estação, é confortável e fresquinho. Uma opção para a gente não depender tanto do ônibus. Só precisava ter mais veículos”, diz a autônoma Rosinalva da Silva, 34. Ela pega o VLT no Cabo, paga R$ 1,60, desce em Cajueiro Seco e segue até a Estação Central, no Recife, pelos trilhos do metrô, sem pagar mais por isso. Faz o trajeto em 1 hora.

Uma viagem no VLT de Cajueiro Seco ao Cabo dura 36 minutos. No ônibus, dependendo do trânsito, pode passar de uma hora. O problema do VLT, observa o carpinteiro Ivanildo José da Silva, é o intervalo entre as viagens. A primeira composição parte às 5h29 e a segunda, às 6h23. “Se a gente perde um trem na estação, vai aguardar quase uma hora pelo outro”, diz ele.

A espera é maior ainda para os passageiros com destino à Estação Curado, único lugar do Recife atendido pelo VLT. O intervalo entre as viagens é de uma hora e 48 minutos, podendo chegar a 2 horas e 42 minutos. Pela manhã, o trem sai de Cajueiro Seco às 5h49. Outro, só às 7h37. Fora do horário de pico, a situação é mais complicada. Depois da viagem das 13h01, só se escuta o apito às 15h43.

De acordo com a CBTU, não há mistério para intervalos tão longos, mas sim, dois problemas: a Estação Cajueiro Seco não recebe dois trens ao mesmo tempo e só há uma linha até o Cabo.

Com essas dificuldades, é preciso organizar as viagens para os VLTs do Cabo e do Curado não chegarem juntos em Cajueiro Seco. O resultado dos arranjos são 32 viagens por dia no trecho Cajueiro-Cabo e 16 no trajeto Cajueiro-Curado. A linha Curado tem menos viagens porque a demanda é menor, justifica a empresa.

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