A linha de ônibus Barro-Macaxeira (BR-101) onde a estudante de biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Camila Mirelle Pires da Silva, 18 anos, viajava sexta-feira passada (8) antes de cair do veículo e morrer, transporta cerca de oito mil passageiros por dia, em 207 viagens. Terrível é o adjetivo mais utilizado por usuários para descrever o serviço oferecido à população pela Empresa Metropolitana, responsável pela linha.
“Os ônibus circulam com gente na porta mesmo, tem passageiro que fica com a bochecha colada no vidro, de tão espremido”, relata o montador de piso Jocélio José da Silva de Lima. Na manhã de segunda-feira (11), ele aguardava por um veículo dessa linha no Terminal de Integração do Barro, o ponto de partida das viagens. “Olha aí como é”, diz Jocélio, mostrando um dos coletivos deixando o terminal com passageiros nos degraus da porta.
Estar no começo da fila, continua o rapaz, não significa que a pessoa seguirá na próxima viagem “Nem sempre a fila é respeitada, o povo corre e entra na tua frente.” A diarista Mauriceia Maria Jerônimo sabe bem o que é isso. “Chego no terminal às 7h10 e só consigo embarcar às 8h, porque não há condições de subir nos outros ônibus”, diz ela.
Mas na segunda-feira (11), o primeiro dia útil após o acidente que vitimou a estudante Camila, a diarista conseguiu entrar num coletivo relativamente vazio às 7h40. E, para sua surpresa, foi sentada. “Botaram mais ônibus hoje (11 de maio) porque o terminal está sendo filmado pelas equipes de reportagem. Isso não acontece no dia a dia”, garante.
O normal, de acordo com Mauriceia, é ela desembarcar do coletivo, na parada em frente ao Hospital das Clínicas, na Cidade Universitária, com a roupa amarrotada, cansada e estressada. “Protejo os seios de pancadas. Os pés (pisoteados) e os braços (dormentes pelo desconforto de segurar nas barras) são os mais castigados”, declara.
Isso quando ela não leva nas costas a bolsa grande de outro passageiro, que não achou espaço para acomodar o volume. “Não posso reclamar, a pessoa não tem culpa dessa situação”, comenta.
Os ônibus circulam com gente na porta mesmo, tem passageiro que fica com a bochecha colada no vidro, de tão espremido
diz o montador de piso Jocélio José
A estudante de enfermagem da UFPE Tatiana Gonçalves também percebeu mudanças no tempo de espera entre as viagens. “Está menor”, diz. O Grande Recife Consórcio de Transporte informa que o intervalo varia de cinco a dez minutos nos horários de pico: começo da manhã e fim da tarde. Numa tabela atualizada para a data de 11 de maio de 2015, no site da instituição, havia viagens com intervalos de dois minutos.
Filas grandes e ônibus lotados, destacam os passageiros, fazem parte da rotina dos terminais de integração. “Isso é generalizado e não só na linha Barro-Macaxeira”, diz Maria das Dores dos Santos, funcionária de uma creche.