Após audiência de custódia, a juíza Blanche Maymome Pontes Matos decidiu, na tarde desta quinta-feira (6), pela prisão preventiva do comerciante Edvan Luiz, de 32 anos, acusado de matar a fisioterapeuta Tássia Mirella, 28, em seu flat, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Com a decisão, Edvan foi encaminhado ao Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna, o Cotel, onde aguardará o julgamento por homicídio triplamente qualificado e feminicídio.
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Veja a decisão da magistrada:
"O acusado Edvan Luiz da Silva foi atuado por homicídio qualificado (realizado à traição, emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima). Ele será encaminhado para o Cotel."
Exames confirmaram que as amostras de pele coletadas das unhas da fisioterapeuta Tássia Mirella Sena de Araújo, morta na última quarta-feira em seu apartamento em Boa Viagem, coincidem com o DNA do suspeito. As informações foram confirmadas durante uma coletiva de imprensa na sede da Secretaria de Defesa Social (SDS).
Também foi apontada a presença do DNA de Mirella em amostras de sangue coletadas dentro do apartamento do autor do crime. O sangue foi encontrado no piso do banheiro e na maçaneta da porta do suspeito. Os exames também apontaram a presença do sangue de Mirella em vestimentas que seriam do comerciante. As roupas foram encontradas em um prédio ao lado do local do crime, o que indica que ele teria tendo se livrar das provas.
De acordo com o chefe da Polícia Civil, Joselito Kehrle, a partir do momento em que passa a ser provado que o DNA é dele, a polícia conseguiu indícios de que ele seria o autor do crime, o que pode dificultar obtenção pela defesa de um mandato de habeas corpus para Edvan.
"Hoje eu tenho que ele estava na cena do crime, que ela lutou com ele, e que existe sangue dela dentro do apartamento dele. Então não há mais dúvida para a polícia, embora ele continue a negar, de que ele foi o autor desse bárbaro crime", declarou Kehrle.
Amigos e parentes divulgaram carta à sociedade durante o enterro da fisioterapeuta Tássia Mirella Sena de Araújo, 28 anos, na manhã desta quinta-feira (6), no Cemitério de Santo Amaro, área central do Recife. No texto, traçam a jovem como uma mulher “destemida, independente e livre”, e cobram justiça.
“Em meio a este turbilhão de tristeza e dor, quando queríamos silenciar e acalentar nossos corações - tanto da família quanto dos amigos - sentimos, por outro lado, a necessidade de trazer um pouco do que era Mirella.
Mirella, ao contrário dos julgamentos machistas que buscam justificar esse ato brutal e violento, causado pelo suspeito Edvan Luiz, homem que não tinha nenhum envolvimento com com ela (sabendo que mesmo que houvesse não há justificativa cabível para tal barbárie) era uma mulher jovem e destemida a viver independente e livre.
Sabemos - lamentavelmente - que esse não é um caso isolado, pois todos os dias mulheres são vítimas de feminicídio. Mulheres da periferia, mulheres negras, mulheres mães, mulheres lésbicas, mulheres trans, mulheres...
Mirella conquistou sua formação de fisioterapeuta, trabalhava nume empresa multinacional da área médica e como toda jovem buscava a experiência de mais autonomia morando sozinha. Mirella lutou na vida e pela sua vida, literalmente, até o fim.
Não existe crime passional, o que existe aqui é um FEMINICÍDIO! Mirella não tinha nenhuma relação com o suspeito que, mesmo como disse o delegado em suas entrevistas às TVs, o suspeito afirmou ter visto Mirella apenas uma vez.
Os indícios existem e estão sendo apurados. E hoje haverá uma coletiva para tentar esclarecer tudo. É o que esperamos.
Mas o que não podemos esquecer é que queremos justiça. O assassino de Mirella não pode ficar impune. Precisamos evitar de forma veemente que mais uma Mirella, Maria ou Ana seja morta dessa forma tão brutal. Por isso, convocamos toda a sociedade para comparecer hoje às 13h em frente ao Fórum Joana Bezerra para a mobilização da audiência de custódia e impedir que o suspeito responda em liberdade.”
#SOMOSTODOSMIRELLA
A polícia chegou ao homem, que era vizinho da vítima, após identificar marcas de sangue próximo à porta do apartamento dele. Os peritos do Instituto de Criminalística (IC) visualizaram vestígios na maçaneta e no corredor do edifício. Uma camisa dele com manchas de sangue da vítima também foi encontrada.
Na tarde de quarta-feira (5), Edvan Luiz foi levado para a sede do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Após prestar depoimento, ele foi encaminhado para o Instituto de Medicina Legal (IML), onde fez exame de corpo de delito.
Segundo o gestor do DHPP, o delegado Ivaldo Pereira, o comerciante nega participação no crime, mas entrou em contradição ao responder algumas perguntas feitas pelos agentes.
Segundo informações, por volta das 7h, vizinhos ouviram gritos. Mirella, natural de Vitória de Santo Antão, morava em um dos oito apartamentos do 12º andar do prédio desde dezembro do ano passado. Foi o vizinho da porta ao lado que conseguiu ver, pela janela, o corpo da jovem ensanguentado na sala. Ele chamou o síndico e a polícia foi acionada.
As autoridades teriam chegado rapidamente ao local e isolado as entradas. Mirella foi encontrada no chão, sem roupas, com um corte profundo na garganta e ferimentos nas mãos. A perícia constatou sinais de relação sexual, mas não se sabe se ela foi vítima de estupro.
A polícia chegou ao suspeito ao encontrar manchas de sangue na porta do flat. Após várias tentativas de contatá-lo e com a constatação de que ele não havia deixado o prédio, a polícia invadiu o apartamento e encontrou o homem dormindo no quarto. O suspeito é casado e mora no mesmo andar de Mirella. Ele negou envolvimento no crime, afirmando ter cruzado poucas vezes com a vítima no elevador.
De acordo com os peritos, ele estava com arranhões e hematomas pelo corpo. O homem, que trabalha como comerciante da área de cosméticos, justificou dizendo que teria passado a noite fora e se envolvido em briga com um flanelinha, mas caiu em contradição.
A camisa usada pelo comerciante nas imagens gravadas foi encontrada ensanguentada no prédio ao lado da cena do crime, como se tivesse sido jogada pela janela. Às 21h30, peritos o Instituto de Criminalística (IC) estiveram novamente no flat para uma vistoria complementar.
Autoridades, amigos e familiares desconhecem qualquer relação entre o suspeito e Mirella. "Ela não tinha namorado, era muito focada no trabalho", contou a tia Sílvia Cordeiro. A fisioterapeuta trabalhava como representante de produtos farmacêuticos. O delegado responsável pelo caso é Francisco Océlio, do DHPP.