Uma história de amor que pena para chegar a um final feliz. É assim que podem ser classificadas, desde o começo deste ano, as vidas de Cleuza Alves, 54, e Fernando Silva, da mesma idade. Ela, moradora de Belo Horizonte, em Minas Gerais, diz que viajou mais de 2 mil quilômetros até o Recife em busca do que chama de "grande amor". Ele, morador da capital pernambucana, vive apenas com uma irmã que, segundo o relato de Cleuza, proibiu o encontro entre os dois, marcado para acontecer em julho.
"Qual o prazer que ela tem em ver o irmão infeliz ?", questiona Cleuza com a voz embargada e chorando ao telefone por conseguir falar com a reportagem. Cantora gospel em Belo Horizonte e missionária de uma igreja evangélica, a mulher saiu da capital mineira no dia 31 de abril após não mais conseguir estabelecer contato com Fernando. "Todos os dias nos falávamos por mais de 1h e 32 minutos. conheci ele no início deste ano, pelo Facebook, nós não entendemos muito de redes sociais, essas coisas, mas eu sabia que era verdadeiro porque ele sempre me respeitou, não havia maldade", conta.
Determinada a encontrar o amado, Cleuza partiu do sudeste do País no dia 31 de abril. Na mala, roupas e um total de R$ 750: "era todo o dinheiro do aluguel", confessa. O primeiro passo foi seguir até o Centro de Abastecimento e Logística de Minas Gerais (Ceasa). De lá, partiu de carona com um caminhoneiro em direção a Pernambuco, numa viagem que ainda seria longa.
"Só para chegar até a Bahia fiquei no caminhão 2 dias. Um rapaz, que a princípio me ajudou, deixou-me em Itabela. Lá, tive que descer". Questionada sobre o porquê, Cleuza fica em silêncio por alguns instantes ao telefone e fala rapidamente: "tenho vergonha, ele me desrespeitou". Mais uma vez, ela volta a chorar, detalha o ocorrido, mas pede para que não seja publicado.
Já no Nordeste, a cantora gospel deixou o primeiro motorista que a auxiliou e procurou a ajuda de outras pessoas."Fui até um posto, conheci a mulher de outro caminhoneiro, contei a ela o que aconteceu e fiquei com eles". Do dinheiro que levou, Cleuza tinha menos que a metade. Os novos amigos da estrada emprestaram-lhe R$ 110, o suficiente para juntar com o que ainda tinha e comprar uma passagem de ônibus até Recife.
"Passei alguns dias sem comer, tinha vergonha de contar às pessoas que estava viajando daquele jeito porque queria encontrar o meu amor", relata. Já no Recife, Cleuza seguiu até o endereço que tinha. "Ele me falou que morava na rua Jonatas Vasconcelos, em Boa Viagem (Zona Sul da capital pernambucana). Numa foto, vi que lá tem um espaço geriátrico. Tentei mas ninguém o conhecia, não consegui achá-lo".
Com apenas R$ 40, a viajante se viu, mais uma vez, em meio ao nada. "Eu queria ficar até achar ele, mas tive que voltar porque a mulher que cobra o aluguel deu à minha filha o prazo de 3 dias para que pagássemos o que estava atrasado. Pensei que minha menina poderia passar mal, ela sofre de crises convulsivas. Eu mesma tive ataques de pânico na estrada e procurei ajuda para voltar e ver minha filha".
Sem dinheiro, Cleuza recorreu aos caminhoneiros na Ceasa de Pernambuco, no bairro do Curado, Zona Oeste da capital. "Eles me mandaram ir até o posto Padre Cícero. Lá, morrendo de vergonha, pedi ajuda. Ofereci até um óculos e o celular que eu tinha para alguém me levar de volta a Minas. Um motorista que vinha para São Paulo acertou de me deixar em Belo Horizonte. Dormi na rede, na boleia do caminhão, mas cheguei em casa. O problema é que não tenho dinheiro para voltar a Pernambuco e não consigo falar com o Fernando, preciso muito", conta.
A irmã de Fernando Silva, não identificada, vive numa casa com ele, conforme aponta a mulher. "Ela pegou o celular dele porque ouviu a conversa sobre vir morar comigo. Ela mesma me ligou e disse: não é por que vocês compraram alianças que vai dar certo. Ele não vai morar com você". O casal, que tinha até comprado alianças e planejado a compra de um terreno mineiro nunca tiveram contato além do ambiente virtual.
Mais uma vez às lágrimas no telefone, Cleuza faz um último apelo. "Ele é a única pessoa que mexeu com meu coração, sempre me respeitou em tudo. Sou missionária, cantora gospel e preciso muito encontrar meu amor. Me ajude", implora à reportagem numa ligação interestadual em plena tarde deste domingo (4), mesmo após ter gravado vídeo no Youtube e postado mensagens à procura de Fernando nas redes sociais.
A história real, que parece mais roteiro de filme, ainda não chegou ao fim. Cleuza conta com a ajuda dos pernambucanos para enfim ver pela primeira vez, pessoalmente, o homem que para ela é a "paixão da vida".