A restauração da capela-mor e dos altares de madeira da Igreja de São Pedro dos Clérigos, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife, abriu uma polêmica entre arquitetos, restauradores e a reitoria do templo católico. Enquanto a Arquidiocese de Olinda e Recife defende o douramento das peças, raspadas numa intervenção realizada na década de 1970, técnicos da área de restauro argumentam que a capela-mor e os altares não eram dourados no passado.
“Ninguém sabe ao certo se as peças eram douradas ou pintadas, mas precisamos definir como será feito o projeto de restauração dos bens móveis e integrados da igreja”, afirma Frederico Almeida, engenheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-PE). Em busca do consenso, o Iphan reuniu arquitetos, restauradores e religiosos num seminário para discutir o assunto, esta semana, no templo católico do Pátio de São Pedro.
Numa apresentação para o grupo, na nave da Igreja de São Pedro, a restauradora Pérside Omena disse que coletou fragmentos de pintura em sete pontos distintos das talhas de madeira na capela-mor e no altar lateral de São Vicente Férrer. “Não encontramos vestígios de ouro nas amostras, analisadas no Departamento de Física Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco”, afirma Pérside.
De acordo com ela, a análise do material identificou uma pintura branca à base d’água, com chumbo e zinco (em maior percentual) na composição, provavelmente do século 19. O arquiteto José Luiz Mota Menezes, um dos participantes do seminário, informa que a igreja era pintada de branco, internamente, nos anos 1960.
“A Igreja de São Pedro recebeu bens e altares ao longo do século 18, por isso há uma variedade nas peças. Ela é uma obra incompleta. Se merece ou não ser completada, é um passo difícil a ser dado. Daí a importância do seminário”, destaca o arquiteto. O prédio, construído de 1729 a 1759 e tombado pelo Iphan, mistura elementos do rococó e neoclássico.
Frei Rinaldo Pereira dos Santos, reitor da Igreja de São Pedro, defende o douramento com base em sentidos e simbologias teológicas. “O ouro nas igrejas não é enfeite ou ostentação, é o símbolo da divindade e da realeza de Cristo, remete ao sagrado”, argumenta, citando a cidade de ouro do livro do apocalipse de São João. “Uma obra de restauro deve recuperar o templo para o exercício da sua finalidade primeira”, acrescenta.
“O debate não trouxe a resposta pronta, mas vai nos auxiliar a elaborar o projeto de restauração dos bens móveis e integrados”, reforça a superintendente do Iphan-PE, Renata Borba. “Temos um saldo de dinheiro da obra de recuperação estrutural do prédio, executada pelo PAC, e vamos tentar usar a verba para dar continuidade às intervenções, agora com o restauro dos bens artístico”, declara Renata Borba.