Demorou, mas finalmente as três bicas históricas de Olinda, no Grande Recife, serão alvo da atenção do poder público. As intervenções nas construções, esquecidas durante mais de uma década, foram autorizadas ontem pela prefeitura e começam a sair do papel hoje. A restauração vai custar R$ 185,3 mil, recursos já garantidos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas, do governo federal. A notícia animou os moradores, que poderão utilizar a água potável das estruturas dentro de 90 dias.
A atendente de telemarketing Ana Paula Arruda, 36 anos, era adolescente quando viu água jorrar pela última vez da bica de São Pedro, no Varadouro, onde mora. “Lembro que, quando era criança, vinha muito aqui pegar água. Depois, ela acabou sendo desativada. Isso atrapalhou muito quem mora na área, porque a água da Compesa nem sempre chega e a gente poderia utilizar a bica. Tenho esperança de que agora vá melhorar”, comemorou.
A ordem de serviço foi assinada ontem pelo prefeito de Olinda, Lupércio Nascimento. “É uma obra esperada não só pelos moradores mais próximos, mas pelos olindenses e pernambucanos. Sabemos que as bicas também fazem parte do turismo. Infelizmente, a imagem hoje é negativa, mas daqui a 90 dias, vamos entregar as construções restauradas e com água potável”, prometeu o gestor.
Anunciadas em abril do ano passado, as obras nas bicas do Rosário, São Pedro e Quatro Cantos deveriam ter começado em setembro. “Tivemos que cumprir todo o processo legal de tomada de preço. O dinheiro chegou de Brasília em novembro, foi quando começou a licitação. O valor inicial era de R$ 290 mil, que acabou ficando muito mais barato. Se não fizéssemos esse processo todo, poderíamos acabar trazendo prejuízo para os cofres públicos. Por isso, a demora para começar”, justificou o secretário de Patrimônio e Cultura, Gilberto Sobral.
As construções acumulam problemas. Pichações e pinturas descascadas são comuns a todas. A do Rosário, próximo à sede do Homem da Meia Noite, apresenta complicações de drenagem. A de São Pedro, no Varadouro, está sem água há uma década. Já a dos Quatro Cantos, construída no Amparo em 1062, serve como banheiro público.
Serão realizados trabalhos de restauração de fachadas e pisos, além da instalação de filtros para tratamento da água e melhorias na iluminação das bicas. “É como se uma pequena estação de tratamento d’água fosse funcionar em cada uma das três construções”, explicou o secretário.
O projeto é um presente da arquiteta e urbanista Vânia Avelar, autora de um livro sobre o assunto. “É muita emoção, porque foi muito trabalho para realizar esse estudo. É uma ótima sensação ver que é possível torná-lo realidade”, comemorou. A especialista, no entanto, alerta para os cuidados necessários após a reforma. “Tem que existir conservação, com ações cotidianas, de acordo com as necessidades de cada bica.”
Após a reforma, cuidados devem ser tomados pela gestão municipal, já que as bicas são constantemente alvo de vândalos. “Câmeras estão em funcionamento, mas também vamos colocar o pessoal do patrimônio e a guarda (municipal) para fiscalizar. Esperamos que a população nos ajude, não jogando lixo, conservando o espaço, fiscalizando e denunciado para que a gente possa agir com rigor”, apelou o prefeito.