Um passeio pelos Baobás da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) pretende recontar a história e a memória dos povos africanos e afrodescendentes do Brasil nesta quinta-feira (21). O Circuito dos Baobás, como é chamado o evento, é idealizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Autobiografias, Racismos e Antirracismos na Educação (Gepar) e visa reunir estudantes, professores e militantes para discutir o racismo na nossa sociedade. Dança e música também estão na programação.
O Circuito foi criado em 2016 pela enfermeira e militante Inaldete Pinheiro, fundadora do movimento negro no Recife, que convidou negros e afrodescendentes para visitar algumas destas árvores, com quem ela diz ter uma relação íntima. “Eu tenho essa admiração e considero uma árvore que nos aproxima muito da África. Para mim, por exemplo, essa é uma relação íntima. Eu conheço os baobás africanos e sei a importância deles para os países africanos”, conta. Naquele ano, foram visitados baobás de diversas partes do Recife.
Agora, em 2019, a data escolhida foi 21 de março, Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial. A segunda edição do passeio está sendo coordenada pela professora doutora da UFPE Auxiliadora Martins e contará com presença de Inaldete para a discussão das estruturas sociais. “Todo esse movimento é no sentido de colaborar para que a sociedade e a Universidade, que é formadora de tantas profissões, compreendam o racismo como estrutural. É preciso que nós tenhamos uma prática social de combate ao racismo e o respeitemos toda e qualquer diversidade, que é a principal característica do ser humano”, registra Auxiliadora, que leciona no curso de Pedagogia. Segundo ela, a árvore é tida por alguns como representação do movimento negro. “Essa é uma árvore que foi trazida nos navios negreiros e foi plantada aqui. Ela é símbolo da nossa história enquanto população negra e afrodescendente”, diz.
Segundo a professora Ana Lícia Patriota, do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Pernambuco conta com mais de 100 exemplares da espécie, trazida para o Brasil há centenas de anos. “Como é uma árvore que precisa de muito espaço, aqui elas não atingem as medidas que costumam atingir no continente africano. No Recife, costumam a medir no máximo 30 metros de altura e nove de diâmetro”, afirma, lembrando que os baobás podem viver até cinco mil anos.
O percurso visitará quatro dos 33 baobás existentes na UFPE. Cada um deles será palco de uma apresentação cultural. O evento começa às 14h, em frente ao Centro de Educação (CE). De lá, o passeio segue para o baobá da entrada da Universidade, onde acontece um sarau literário. Em seguida, os participantes visitam a árvore do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (Ccsa), onde haverá apresentação de capoeira com a mestre Mônica Santana. Em seguida, o grupo passa pelo baobá do lago da UFPE e assiste uma estudante cabo verdiana se apresentar. O passeio é finalizado no CE, com uma apresentação do artista moçambicano Manuel Castomo.