As fortes chuvas deste mês de abril têm trazido transtornos ao Arquipélago de Fernando do Noronha. Moradores e visitantes reclamam da falta de infraestrutura da ilha, que está repleta de lama. A combinação das chuvas com as estradas de barro e as dezenas de buracos tem dificultado o acesso à praias famosas, como Sancho, Cacimba do Padre e Conceição. A previsão para este sábado (27), segundo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), é de mais chuva.
A lama está presente em boa parte das estradas da ilha e está prejudicando trilhas e passeios. Em alguns pontos, como na Praia da Conceição, um dos acessos foi bloqueado. Segundo moradores, a situação é preocupante, mas o problema já é antigo. “Todos sabem que esse é o período chuvoso na ilha, mas não fazem nada para prevenir. As áreas onde há mais moradores são sempre as mais afetadas. É tanta lama que nem de carro conseguimos sair. Há duas semanas, a chuva foi forte e chegou a entrar lama na casa de algumas pessoas na Vila dos Remédios. Tudo isso podia ter sido evitado”, conta um morador que prefere não ser identificado.
Em alguns locais, apenas caminhonetes circulam. Com medo de ficarem atolados, taxistas deixam de fazer viagens. “Todos os habitantes dependem, direta ou indiretamente, do turismo. A gente deixa de ganhar dinheiro, de fazer passeios. Ficamos reféns disso”, acrescenta o morador, que vive na ilha desde que nasceu, há 39 anos. Segundo o surfista Dudu Souza, também morador da ilha, há praias que só podem ser visitadas a pé. “Tem que ir andando, com os buracos e a lama. Ano passado não dava para ir na praia do Sancho. Agora você imagina, a praia mais linda do mundo sem ter acesso”.
Neste mês, já choveu 347 mm em Noronha. A média histórica é de 248 mm. Da quinta-feira (25) para ontem, por exemplo, foram registrados 46 mm, segundo a Apac. As chuvas são explicadas por causa de um sistema meteorológico conhecido zona convergência intertropical. “As chuvas são comuns nos meses de março, abril e maio, porque é nesse período que o sistema atua. Este ano, as chuvas estão sendo intensas por causa da alta temperatura do oceano. Mas, é algo que já era esperado”, explica a meteorologista da Apac, Zilurdes Lopes.
Segundo a administração de Noronha, ações pontuais, como a colocação de metralhas e britas em locais de difícil acesso, estão sendo feitas para sanar os problemas. “Estamos melhorando a drenagem de algumas estradas e passando a máquina.A administração está elaborando dois termos de referência para fazermos licitações emergenciais, com o objetivo de realizar a total drenagem do acesso às praias e em outros locais, além de colocar pavimentação em algumas ruas”, esclarece o administrador da ilha, Guilherme Rocha. Com relação à rede de esgoto, a gerência informou que fica a cargo da Compesa, que foi acionada mas não se manifestou até o fechamento desta matéria.
Nas redes sociais, moradores denunciam descaso da administração da ilha. Em uma das publicações, feita na manhã de ontem, um morador denuncia que esgoto está escorrendo para a Praia do Cachorro, uma das mais famosas do arquipélago. “Vocês não têm noção do mau cheiro que está aqui”, diz o morador Jefferson Galdino em um vídeo no Instagram. Nas imagens, é possível ver o esgoto descendo pela escadaria que dá acesso à praia.
“Tudo o que é feito aqui na ilha são paliativos para que o turista não veja a realidade, enquanto os moradores vivem com
esse problema há séculos”, reclama o guia turístico e salva vidas, mais conhecido como Cachorrinho. Segundo ele, lama não é o único problema. “A ilha está fedendo a esgoto e não é exagero.”
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Todo visitante precisa pagar uma taxa de preservação ambiental de R$ 73,52 por noite dormida em Fernando de Noronha. O valor, segundo a administração, é revertido na manutenção das condições ambientais e ecológicas da ilha. Uma taxa de R$ 106 também é cobrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). De acordo com o instituto, em seu site, 70% desse seu valor é destinado à “melhorias diretas ao Parque Nacional através de projetos de reforma e manutenção de trilhas, folheteria, sinalização interpretativa, implementação e manutenção do Centro de Visitantes e etc”.