Há quatro anos, Elaine Cristina da Silva recorre ao uso medicinal da cannabis para controlar crises convulsivas graves no filho, que nasceu com hemimegalencefalia, uma malformação cerebral rara. Antes de descobrir o tratamento alternativo para aliviar o sofrimento de João Pedro, 8 anos, ela torcia o nariz para a maconha. “Eu era muito preconceituosa, quando comecei a ler sobre o uso terapêutico da cannabis, meu preconceito caiu por terra”, declara Elaine Cristina, ao participar neste sábado (18/05) da 12ª edição da Marcha da Maconha, no Centro do Recife.
O evento começou na Rua da Aurora, bairro da Boa Vista, em volta do Monumento Tortura Nunca Mais, às 14h. E no fim da tarde os participantes seguiram em direção ao Pátio de São Pedro, no bairro de Santo Antônio. “Entrei nessa luta para que todos tenham direito a usar e a plantar a maconha em casa, assim a pessoa não vai precisar mais comprar”, declara Elaine Cristina, que acompanha a Marcha da Maconha pela terceiro ano.
“João Pedro apresentou muitas melhoras cognitivas e motoras, depois que passou usar a cannabis, ele tem outra qualidade de vida, agora eu tenho uma criança ativa em casa. Ele, que vivia calado e olhando para a parede, passou a interagir com a gente, do jeito dele”, declara Elaine Cristina. “Comecei com o óleo de cannabis importado, mas não surtiu muito efeito. A resposta foi muito melhor com o óleo artesanal”, afirma.
Elaine Cristina e outras famílias que fazem uso terapêutico da planta se juntaram a jovens e adultos que defendem o uso recreativo da maconha e marcharam na tarde de ontem pelas ruas do Recife. “Esse tipo de manifestação contribui para ajudar a diminuir o preconceito, as pessoas estão vendo que não somos poucos, nós somos muitos”, destaca a publicitária Camila Sinimbu, que participou da Marcha da Maconha pela segunda vez. “Estamos aqui para defender o uso medicinal e recreativo da maconha”, diz ela.
“Os benefícios medicinais são cientificamente comprovados e quanto ao uso recreativo, acho que as pessoas deveriam ter o direito de decidir se querem ou não. O importante é ensiná-las formas de reduzir os danos”, observa Camila Sinimbu. O assunto, inclusive, é o tema da cartilha Fique Suave, distribuída durante a marcha, com informações sobre redução de danos e direitos de usuários de drogas, numa iniciativa dos organizadores da Marcha da Maconha e do PSol, com vereador Ivan Moraes e o grupo de deputadas Juntas.
Em 2019, a Marcha da Maconha levou para as ruas o tema Sejamos livres. Libertem nosso povo!, em referência ao elevado número de negros entre a população carcerária. “Das 800 mil pessoas presas no Brasil, 68% são negros. Num recorte feminino esse índice chega a 73% e 68% das mulheres presas são acusadas de tráfico de drogas”, relata Ingrid Farias, organizadora da marcha.
“Escolhemos a Rua da Aurora para a concentração da marcha porque por ser um espaço de violação de direitos de usuários de drogas”, diz Ingrid.
Unidas sob o slogan "Cultive seus direitos", milhares de pessoas inundaram o centro de Santiago de verde, neste sábado (18), com uma imensa e pacífica marcha para exigir do governo de Sebastián Piñera a descriminalização do cultivo de maconha no Chile.
Realizada hoje também em outros países, a mobilização reuniu cerca de 80 mil pessoas em sua XV edição, relatou a Fundación Daya, uma das organizações apoiadoras da iniciativa.
Em um comunicado, a Daya pede que o Chile adote "uma nova regulação sobre a maconha que seja justa, democrática".
Os chilenos querem que a opção de fumar maconha "seja uma decisão (sua), e não que passe pelo governo", disse à AFP Valerie Peñaloza, durante a passeata.
No Chile, o consumo de maconha em público é proibido, assim como seu cultivo.
A regulação desse mercado avança no mundo e na região, mas, na América do Sul, apenas o Uruguai autorizou o cultivo para uso pessoal e a venda da substância com fins recreativos.