Fugindo da crise que assola a Venezuela, um grupo de cerca de 40 pessoas, entre adultos e crianças, atravessou a fronteira do Brasil e percorreu um trajeto de mais de seis quilômetros até chegar ao Recife. Saíram da cidade de Tucupita, no país vizinho, sete meses atrás. No caminho, passaram por Boa Vista, Manaus, Belém, São Luís, Fortaleza e Natal.
“Viemos para para cá por necessidade. Na Venezuela não há nada, não há ajuda, não tem remédio, não tem comida”, diz José Baez, de 39 anos. Ele, a esposa e três filhos são uma das famílias que chegaram à capital pernambucana no domingo (6) e desde então estão hospedados em dois pensionatos na Rua da Glória, na Boa Vista, área central. Para conseguirem se manter, os refugiados buscam apoio da população e assistência do governo.
Por meio de nota, o Estado informou que a Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ) já articula com a Prefeitura do Recife possíveis medidas para solucionar a demanda dos venezuelanos. Na quinta-feira (10), a Assistência Social do Recife fez uma visita ao local para mapear as necessidades. Procurada pela reportagem, a prefeitura não respondeu à reportagem.
Até agora, o grupo está custeando a moradia com a contribuição que arrecada nos semáforos com cartazes que pedem ajuda. Mesmo assim, a situação de incerteza abala. “Fico preocupado com o dormir. Não só por minha pessoa, mas pela minha família”, revela José.
Nas cidades do Nordeste, não passaram mais de duas semanas. Segundo Jhonni Mata, de 29, a família não tem destino final. “Nós estamos aqui em busca de uma cidade melhor”, fala. Pai de seis filhos, Jhonni teve que deixar cinco deles com a avó em São Luís. “Faltou muito dinheiro para trazer eles para cá”, conta. Só a mais nova, a bebê de sete meses Maria, veio com ele e a esposa.
O venezuelano lamenta que, na passagem pelos outros lugares, os governos não ofereceram qualquer suporte. “Nunca nos ajudaram.” A questão mais urgente, para ele, é a da moradia. “Nós precisamos de uma casa, é o principal.”
Mais do que isso, eles buscam trabalho. “Não só para homem, mas mulher também precisa trabalhar. Eu preciso de salário para viver melhor”, pede Santo Tovan, 47. “Na Venezuela não tem trabalho.”
No total, 340 refugiados moram em Pernambuco, de acordo com a SDSCJ. A maior parte vem da Venezuela, como parte do Plano de Interiorização do Governo Federal - programa criado para diminuir a migração dos venezuelanos para Roraina.
Por aqui, o acolhimento deles fica a cargo de três organizações: Aldeias Infantis, em Igarassu; Cáritas, no Recife e Ação Missionária para Áreas Inóspitas (AMAI), em Carpina.
Ainda segundo a SDSCJ, os refugiados de outras nacionalidades chegam por meio de demandas espontâneas. A Política Nacional de Assistência Social, por meio serviços de acolhimento institucional para adultos e famílias - ofertados pelos municípios -, oferece o moradia, alimentação, cuidado e inserção no mercado de trabalho, em articulação com as prefeituras. “Para ter acesso a esse direito, cada refugiado deverá passar por uma análise de uma equipe técnica que avalia a demanda apresentada”, diz nota da pasta.
Um banco de dados de refugiados e pessoas que solicitam residência temporária está sendo elaborado pelo Governo do Estado em parceria com o Ministério Público, com o objetivo de mapear os imigrantes.