Se há uma coisa da qual o ser humano pode ter certeza, essa é a morte. Porém, a forma como ela é encarada varia de acordo com a crença de cada um. Há quem acredite na ressurreição em outro plano, assim como há quem acredite que em breve voltaremos à Terra. E há ainda aqueles para quem a morte significa, simplesmente, o fim da vida.
Por isso, neste sábado (2), Dia de Finados, o Jornal do Commercio traz a visão de diferentes religiões para conhecer o que a morte significa para cada uma delas. Confira:
O conceito de morte para os católicos parte da ideia de que a vida é dividida em etapas e que estamos caminhando para a vida eterna. "Santo Agostinho já dizia que estamos no mundo das criaturas de Deus, mas em breve teremos um novo lugar na vida em Deus eternamente. Nós cremos que a vida não termina aqui, mas transcendemos para uma nova", comenta o padre João Crisóstomo, capelão do cemitério de Santo Amaro, no Recife.
Dentro da doutrina católica, a vida é divida em três dimensões: o período que passamos na Terra, chamado de Militante, o 'Estado de Espírito', quando a alma passa por um processo de purificação até chegar à última dimensão, chamada de Igreja Triunfante. "Na última etapa, temos desfecho de tudo. É quando, finalmente, nos encontramos com Deus", fala o padre.
A partida de um ente querido sempre é difícil, mas o padre explica que, para o Catolicismo, a certeza de o espírito estará mais perto de Deus é o consolo para quem fica nesta dimensão.
Para os evangélicos, a morte faz parte do curso natural da vida e acontece apenas uma vez. De acordo com a crença, ao morrer, o corpo vira pó, enquanto a alma e o espírito retornam a Deus. "Acreditamos que a morte é uma separação do corpo físico, da alma e do espírito, que pertencem a Deus", fala José Barbosa, pastor da Igreja Batista há 25 anos .
De acordo com o líder religioso, ainda que o falecimento de um ente querido seja doloroso, os evangélicos encaram a morte como ganho e não perda. "Na nossa a fé, a morte não é o fim de tudo. É, na verdade, um momento de descanso. Dizemos que dormimos em Deus e acreditamos que um dia seremos acordados, na ressurreição dos justos”, diz. “Além disso, no céu, não existirá mais dor ou lágrima, será só paz e alegria. Por isso, consideramos a morte um ganho, porque deixamos este mundo de sofrimento”, completa o pastor.
"A morte é uma simples mudança de estado, a destruição de uma forma frágil que já não proporciona à vida as condições necessárias ao seu funcionamento e à sua evolução". É assim que Valmir Costa, membro do Instituto Espírita Allan Kardec, define a morte na visão do Espiritismo.
Uma das principais doutrinas espíritas é a reencarnação, ou seja, a volta do espírito, em outro corpo físico, em um novo contexto, em uma nova família e até mesmo em outro país. Segundo Valmir Costa, "toda morte é um parto, um renascimento", ele diz ainda que "a continuação da vida após o túmulo e a necessidade de voltar ao mundo da matéria" são uma realidade. ´
Valmir explica que, para os espíritas, o luto não é apenas pela perda em si, que naturalmente causa sofrimento e dor, mas se deve à preocupação com o estado moral do recém desencarnado que precisa se reequilibrar o mais rápido possível em seu novo estágio de vida. "Por isso, fazemos preces pedindo misericórdia para o sucesso neste pós-parto", diz.
A morte é uma mudança de status e depois dela nos tornamos ancestrais para proteger nossos familiares e para isso nos preparamos. É assim que mãe Elza de Iemanjá, sacerdotisa do Candomblé, explica a morte sob o ponto de vista de sua religião.
"Vivemos a morte com muita intensidade, porque cremos numa vida eterna, pois quem parte se torna um ancestral para cuidar de nós e nos preparamos para isso, sendo melhor a cada dia, da forma que podemos", conta. Para o Candomblé, não existe inferno. "Apenas céu e uma vida eterna", explica mãe Elza, ressaltando que também não há concepção de pecado na religião.
No Candomblé, o momento do luto é vivido em um ritual de sete dias e a morte é tratada como um desaparecimento deste plano. "Depois que os nossos entes queridos desaparecem, nós temos um ritual fúnebre que representa a saída da terra para viver nos céus, porque cremos que há nove", fala mãe Elza de Iemanjá. "Após esses rituais, se a pessoa que desapareceu foi sacerdote ou sacerdotisa, cuidamos para que ela se torne um ancestral divinizado e torne a fazer parte do nosso culto", completa.
Parte do ciclo da vida, a morte é vista com naturalidade para o Islamismo. Nas palavras de Alberto Brete, membro do Centro Islâmico do Recife, a religião “encara a morte, como encara a vida, como natural. Para o Islamismo, a morte é a passagem deste mundo para outro, para ir ao encontro de Deus”. Com a morte, a alma é devolvida para o criador, diz.
“Nós cremos que o ser humano tem corpo e alma e que, com a morte, o corpo volta a se integrar com a natureza, de onde veio, e a alma é devolvida para Deus, para que a pessoa espere a ressurreição e o juízo para, depois, ser devolvida ao seu corpo e aproveitar o paraíso”, fala.
Para os muçulmanos, o luto é vivido em um ritual durante o processo fúnebre, que começa com a preparação do corpo para depois iniciar uma série de orações, como a do morto, pedindo a Deus que perdoe os pecados e receba em paz a alma da pessoa que partiu.
Para os judeus, a morte não é algo com o que as pessoas devessem se preocupar. Segundo a crença judaica, o ser humano é parceiro de Deus na criação e precisa ajudá-lo a tornar o mundo um lugar melhor, portanto deve lhe importar mais a vida que a morte. Essa é a explicação dada pelo coordenador de comunicação da Federação Israelita de Pernambuco, Jáder Tachlitsky.
"O Judaísmo se preocupa, principalmente, com este mundo, não com o que vem depois e que está mais envolto em mistério", diz. "Acreditamos que a vida não se encerra com a morte, que há a continuação de uma vida espiritual, mas que não está ao nosso alcance entendê-la", completa.
Nesta fé, o período do luto dura até um ano, de acordo com os rituais judeus e as famílias que perderam um ente querido contam com a ajuda de outros adeptos para viver esse triste período. "No momento do luto, a comunidade procura confortar a família enlutada da melhor forma possível, com todos os rituais, de 7 dias, 30, e um ano", comenta. Além disso, o sepultamento para os adeptos do Judaísmo acontece em caixões simples, sem suntuosidade, para mostrar que diante da morte todos são iguais.