Para quem vive nos morros e encostas da Região Metropolitana do Recife, 2019 foi um ano de tragédias. Ao todo, 30 pessoas perderam a vida em decorrência de enchentes e deslizamentos de barreiras. É o maior número de mortes das últimas décadas. As precipitações fizeram suas primeiras vítimas em março, quando 2 crianças morreram soterradas após um deslizamento de barreira na Mirueira, em Paulista.
Em Camaragibe, 7 pessoas morreram também por deslizamento de barreira, no dia 13 de junho. No mesmo dia, a chuva causou outras duas mortes, uma em Jaboatão dos Guararapes, onde uma casa desabou, e outra no Recife, onde uma mulher morreu afogada em um túnel que havia enchido em decorrência das chuvas. As enchentes ainda vitimaram outras 12 pessoas no dia 24 de julho na capital, em Olinda e em Abreu e Lima.
Algumas das cenas mais dramáticas foram registradas em Abreu e Lima, onde 5 pessoas faleceram, 4 da mesma família, incluindo uma mulher grávida de oito meses. Quando o fantasma dos deslizamentos parecia distante, nova tragédia destruiu o Natal de uma família em Dois Unidos, Zona Norte do Recife, no dia 24 de dezembro. Sete pessoas morreram e outras três ficaram feridas. A suspeita é de que o vazamento de um cano tenha provocado as mortes.
Quem passa hoje em frente ao número 73 da Rua Salgueiro, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul da capital, só vê tapumes. Há nove meses, essa não era a realidade de uma das construções mais icônicas da capital pernambucana. O vai e vem de gente sempre foi uma das principais características do edifício Holiday, onde viviam cerca de 3 mil pessoas. O prédio de 476 apartamentos, distribuídos em 17 andares e dispostos em forma de arco, foi interditado em março, após decisão judicial.
A ordem de desocupação foi assinada pelo juiz Luiz Gomes da Rocha Neto, da 7ª Vara da Fazenda Pública da Capital, após tutela de emergência requerida pela Prefeitura do Recife. A justificativa para a interdição é o estado de conservação da obra, que data de 1956.
De acordo com a Defesa Civil da capital, o risco estrutural do prédio é alto, devido a rachaduras, ferragens expostas e problemas nas fundações da edificação. Outra problemática, apontada em relatório da Defesa Civil, envolve as gambiarras feitas por moradores, que elevam o risco de incêndio no local.
O Holiday foi totalmente desocupado no dia 23 de março e as obras necessárias para a liberação do prédio não foram iniciadas até o momento.
Em maio, autoridades anunciaram o primeiro surto de doença de Chagas de Pernambuco. Ao todo, 77 participantes de um evento religioso realizado em Ibimirim, no Sertão do Estado, entre os dias 19 e 21 daquele mês fizeram coletas de sangue para análise. Dessas, 28 amostras deram positivo para a enfermidade. Além delas, outros dez casos foram confirmados por critério clínico-epidemiológico, totalizando 38 confirmações para a doença, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES). Ainda segundo a SES, o surto ocorreu por transmissão oral. A partir da confirmação da epidemia, todos os participantes do evento foram convocados para realização de entrevista e triagem no Hospital Oswaldo Cruz. Os casos estão atualmente sendo acompanhados na Casa de Chagas, no Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape), área central do Recife, unidade de referência para casos crônicos. Eles devem ser assistidos por um período de dois a cinco anos.
Parecia um Dia dos Pais de diversão em família, mas a tarde de 12 de agosto transformou a vida da auxiliar de ensino infantil Débora Dantas de Oliveira, 19 anos, para sempre. A jovem teve o couro cabeludo arrancado durante acidente de kart, em uma pista localizada no estacionamento do supermercado Walmart, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife.
Débora estava acompanhada do namorado, da filha dele e da sogra quando tudo aconteceu. Foi o companheiro Eduardo Tumajan quem a acompanhou até o Hospital da Restauração (HR), ná área central da cidade. Começava ali uma maratona de procedimentos cirúrgicos para reparar os danos causados pelo acidente.
Na unidade de saúde, Débora passou por cirurgia para reimplante do couro arrancado. O procedimento foi acompanhado, via internet, pelo cirurgião plástico norte-americano Marco Maricevich, que atua em Houston, nos Estados Unidos. Uma trombose, no entanto, fez com que o implante fosse perdido.
A auxiliar de ensino infantil acabou, então, sendo transferida para o Hospital Especializado de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, referência no País em microcirurgia. No dia 24 de agosto, a jovem foi submetida a uma operação de grande porte para reconstrução do couro cabeludo. Parte do tecido muscular dorsal foi implantada para revestir o crânio da jovem, que estava exposto. Em seguida, enxertos de pele das coxas foram retirados para cobrir o tecido muscular. Débora voltou ao Recife no final de outubro, mas deve retornar a Ribeirão Preto em janeiro.
Em dezembro, quatro meses após o acidente, a Prefeitura do Recife sancionou uma lei que estabelece normas para o funcionamento de kartódromos na capital.