Não há idade estabelecida para se ser homenageado do Carnaval do Recife. Mas o bom senso pede que a honraria seja concedida os mais velhos. Não apenas pela idade, mas porque, certamente, ofereceram maior contribuição à folia. O maestro caruaruense Clóvis Pereira, por exemplo, que em 2020 completa 88 anos, nunca foi homenageado. Sua contribuição para o carnaval pernambucano é imensa, não apenas como compositor, mas como regente de orquestras que animaram milhares de foliões, durante décadas, nos clubes sociais do estado. Não que uma homenagem vá acrescentar muito a uma obra que vai do popular ao erudito (ele foi também um dos principais nomes do Armorial.
A homenagem a Edson Rodrigues, dez anos mais novo do que Clóvis Pereira, é justíssima, porém chega com atraso. Edson faz carnaval, oficialmente, desde 1957 (começou a tocar em 1954). Foi um os fundadores da Banda Municipal do Recife, de que foi saxofonista, e regente (entre 1979 e 1983). Funcionário da prefeitura de 1958 a 2000. O que se poderia fazer, além do oba-oba comum a tais tipos de homenagem era fazer com que se tocasse a música do homenageado, sugerindo às emissoras de rádio que fizessem isto, que os trios do Galo a tocassem, e as orquestras idem. Estendendo a homenagem a todo o carnaval, e não apenas a palanques oficiais; Os foliões assim conheceriam a obra do homenageado, e não apenas as imagens dele na TV e jornais durante os fugazes quatro dias da folia.
Homenageado com Edson Rodrigues, o Bloco das Flores surgiu no início dos anos 20, quando a classe média começou a deixar os clubes sociais, e sair para as ruas, mas com a devida salvaguarda para as integrantes do sexo feminino não se misturarem com o poviléu (para usar um termo da época), que acompanhava os clubes pedestres, troças, e blocos. Eram blocos formado por amigos, parentes, ambiente familiar, mas nem por isso menos animado. Em 24 de fevereiro de 1922, o jornal A Província anunciava, na seção carnavalesca, que o Bloco as Flores Brancas mudaria de nome. Passou a se chamar apenas Bloco das Flores. O ensaio naquela noite aconteceria na Avenida Lima Castro, 365, na Madalena, residência do presidente do bloco, coronel Pedro Salgado.
Hoje chamados de “líricos”, os blocos dos anos 20 eram uma espécie de clube social itinerante. Em abril de 1922, por exemplo, foi convocada uma reunião na casa do coronel Pedro Salgado para definir a organização de um piquenique, que os integrantes fariam no Domingo de Páscoa. O Bloco das Flores, assim como as agremiações semelhantes começaram a ser dissolvidos em meados dos anos 30. Por esta época, a classe média bem situada brincava nos corsos, em carros de carroceria abertas que desfilavam em cortejos pelas principais avenidas do Centro. Os costumes estavam menos rígidos. Nos anos 40 estas agremiações, com algumas poucas exceções, já não existiam. O Bloco das Flores merece a homenagem da prefeitura, nem que seja para celebrar os vinte anos em que a atual agremiação voltou às ruas com o mesmo nome do saudoso bloco do coronel Pedro Salgado, que é citado na letra de Evocação, de Nelson Ferreira, campeã do Carnaval brasileiro de 1957, e que formatou o estilo frevo-de-bloco.