Os gelos-baianos estão deixando a paisagem da Avenida Norte, que liga os bairros da Macaxeira, na Zona Norte da capital, a Santo Amaro, na área central. Mas se engana quem pensa que a retirada dos emblemáticos blocos de concreto trouxe alívio a quem precisa passar pela via, uma das principais do Recife. Desde o início da construção do canteiro central pela prefeitura, pedestres reclamam da nova estrutura. Os problemas levaram o Instituto Casa Amarela Saudável e Sustentável (ICASS) a pedir a paralisação das obras para discussão do projeto na última semana.
A altura está entre as principais reclamações. A estrutura tem 40 centímetros de altura por 70 de largura. “É muito alto. Uma pessoa idosa ou com problemas de locomoção não consegue atravessar”, criticou o autônomo Edson Castelo Branco, 48 anos. Para ele, isso não seria problema, caso houvesse passagem para os pedestres. “A gente anda muito até achar um sinal. Acaba não tendo outra opção a não ser passar por cima do canteiro. Pelo lado do pedestre, era melhor o gelo baiano.” A dona de casa Rayanne Santos, 19, se aventurou em meio à avenida com o filho no colo para chegar à Policlínica e Maternidade Professor Barros Lima, em Casa Amarela. “Fiquei com medo de cair. Neste trecho, próximo ao hospital, deveriam existir mais passagens.”
A crítica dos pedestres é pertinente. “O artigo 69 do Código de Trânsito Brasileiro estabelece que os semáforos devem ser colocados a cada 50 metros e, caso não haja passagem, o pedestre deve verificar as condições e atravessar a via de forma perpendicular. Verificamos que a distância não está sendo respeitada”, apontou Vandson Holanda, coordenador do ICASS.
De acordo com a diretora de Manutenção Urbana da Emlurb, Fernandha Batista, o projeto está encurtando a distância entre as faixas de segurança. “Antes, tínhamos travessias a 500 metros de distância umas das outras. Estamos diminuindo esse número para, no máximo, 200 metros. Todas terão semáforo e faixa de pedestres. O foco do canteiro é não permitir que se atravesse em todo o canto, para evitar acidentes.”
Outro ponto levantado pelo instituto é a iluminação. A intervenção na avenida é motivada pelo projeto Ilumina Recife, que vai implantar 266 postes no novo canteiro central, onde existiam 3,4 mil gelos-baianos. A requalificação já beneficiou outras localidades, a exemplo das avenidas Caxangá, Domingos Ferreira, Agamenon Magalhães e Professor José dos Anjos. “A prefeitura está investindo em iluminação para carros em uma área que é extremamente populosa. Não existe preocupação com o pedestre na Avenida Norte. É uma inversão completa dos valores de mobilidade”, critica Vandson Holanda.
A diretora da Emlurb garante que o projeto vai aumentar em cinco vezes o grau de iluminação dos passeios. “Além disso, estamos requalificando as calçadas da avenida, alargando em trechos estreitos.” A construção do canteiro e a instalação da iluminação em LED nos 9 quilômetros da Avenida Norte têm custo de R$ 2,8 milhões. A intervenção iniciou em maio e tem conclusão prevista para agosto.
Junto ao pedido de paralisação das obras, o ICASS pediu a revisão do projeto. O instituto tem uma contra-proposta, que consiste na construção de uma ciclovia para dividir as duas faixas da avenida. Um outro projeto do ICASS, visto como ideal, apresenta duas ciclofaixas, duas faixas exclusivas para transporte público e outras duas para veículos particulares. Fernandha Batista defende que a Emlurb, responsável pelas obras, está aberta a ouvir propostas, mas descartou a possibilidade de interrupção da obra.