A PE-27, importante trecho que liga as cidades de Camaragibe e Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife, e Paudalho, ana Mata Norte, é famosa pelas más condições de sua pista. Buracos e insegurança percorrem todos os 30 km de extensão da via, também conhecida como Estrada de Aldeia. Além da buraqueira, a falta acostamento, quebra-molas, faixas de pedestre e lombadas eletrônicas também preocupam os moradores, que, cansados da situação, já questionam a requalificação que começou a ser feita pela Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos do Estado (Seinfra) e pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) nesta semana. Para eles, as intervenções na via devem ser mais eficazes. O Estado, por sua vez, disse que um projeto mais complexo está sendo elaborado e deve entregar uma nova Estrada de Aldeia até fevereiro.
As obras, realizadas no âmbito do Programa Caminhos de Pernambuco, tiveram início nessa segunda-feira e devem durar dois meses. Os serviços feitos serão desobstrução, drenagem, capinação, sinalização e a recuperação do asfalto, que tanto dificulta a vida de quem precisa passar por lá. Apesar alguns buracos já terem sido tapados, moradores questionam a eficácia do método adotado. “Isso que estão fazendo é um paliativo. Só tapar os buracos não funciona e a gente sabe disso. Essa Estrada tem que ser recapeada, precisam raspar e colocar um asfalto novo. Dessa forma que estão fazendo, no próximo inverno os buracos voltam ainda maiores. A gente nem se anima porque sabe que não traz resultado”, comenta o comerciante Ricardo Celestino, que mora há 45 anos em Aldeia. Segundo ele, quem mora às margens da rodovia convive com o medo. “Os carros vão para a contramão para livrar os buracos e acontecem os acidentes. Só nesse trecho (km 1), três casas já tiveram os muros destruídos”.
O primeiro trecho a ser requalificado vai do km 0 ao km 2, área considerada mais crítica. Mas, apesar dos buracos serem líderes nas reclamações, outros pontos também preocupam que mora ou passa pela área. “Como aqui quase não tem quebra-molas, os carros passam em alta velocidade e quem anda de bicicleta, como eu, fica com medo. O jeito é recorrer ao acostamento, mas ele também está em péssimas condições. Quando chove é tanta lama e água que a gente fica sem alternativa”, conta o vendedor Robson Bezerra, que vive e trabalha na PE-27. Boa parte dos acostamentos está coberta de mato. Metralha e lama também são recorrentes e impedem o uso da faixa lateral.
Para além dos motoristas, a situação dos ciclistas e pedestres preocupa os integrantes do Fórum Socioambiental de Aldeia, associação formada por moradores para cobrar e fiscalizar melhorias na área. Segundo Herbert Tejo, presidente do Fórum, pouco é pensado pelo Estado para a mobilidade de quem não está dentro de um veículo. “Não é oferecida nenhuma segurança para quem anda a pé ou de bicicleta, que são as formas mais fortes de mobilidade das pessoas que vivem nas comunidades que margeiam a Estrada de Aldeia. Criamos um projeto chamado Estrada Parque de Aldeia, que foi entregue ao governador do Estado, mas até hoje não tivemos retorno. O que queremos é uma rodovia que dê segurança para quem anda a pé, quem anda de bicicleta e para os animais, já que aquela é uma área de conservação”, pontua. Uma das reivindicações do grupo é a implementação de lombadas eletrônicas e a melhor sinalização dos quebra-molas, que são apenas seis ao longo dos 30 km.
A estudante Larissa Aquino mora entre os kms 3 e 4. Fazendo cursinho no Recife, a jovem precisa sair todos os dias duas horas antes da aula para chegar a tempo. “Tem tanto buraco que os ônibus demoram muito mais que o normal no trajeto. Quem mora aqui sofre muito com isso. Não só pela mobilidade, mas porque também é muito inseguro. Não temos uma faixa de pedestre sequer. Para atravessar e pegar algum ônibus eu fico dependendo da boa vontade dos motoristas”, desabafa.
Segundo a secretária de Infraestrutura e Recursos Hídricos do Estado, Fernandha Batista, um outro projeto está sendo desenvolvido para que a via seja, de fato, recuperada. Assim como os acostamentos. Os problemas de mobilidade também devem ser sanados, com a criação de faixa de pedestres e quebra-molas, por exemplo. Por enquanto, as obras devem sanar os problemas mais imediatos, como os buracos e a falta de capinação. “Com o tempo, o uso dessa rodovia se modificou e ela passou a ser relativamente urbana. Isso requer um trabalho de requalificação mais complexo, com pavimentos mais resistentes e uma obra de drenagem mais efetiva. A licitação deve estar sendo lançada ainda no mês de agosto e segue até outubro”, adianta a secretária. O tempo estimado de obra são quatro meses e a expectativa do órgão é que tudo fique pronto até fevereiro de 2020. Enquanto isso, moradores esperam, sem muita esperança, por uma nova rodovia. “A gente já não aguenta mais essa situação. Quando alguma coisa vem ser feita, a gente nem se anima, porque sabe que é só tapa-buraco”, lamenta o comerciante Ricardo Celestino.