O Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA) recebeu uma denúncia, nesta terça-feira (5), de um suposto cárcere privado em que a vítima seria uma criança de 11 anos, trancada em casa, no bairro de Santo Amaro, área Central do Recife. De acordo com o conselheiro tutelar Thalles Pitter, a mãe da garota deixava a filha em total confinamento, sem acesso à educação ou qualquer contato com a vizinhança.
Várias denúncias chegaram ao Conselho Tutelar do bairro, que acompanhava a família desde 2016. “A mãe tem problemas psicológicos e precisa de ajuda, assim como a criança, que foi submetida a essa situação”, lamenta Thalles.
Ainda segundo ele, na última sexta-feira (1º), foi até a casa para averiguar se as informações prestadas nas denúncias coincidiam com a situação. Na residência, coberta por panos que impediam a passagem de qualquer raio solar ou de olhares dos vizinhos, estavam a mãe e a criança. “Pedi à mulher para entrar no local, e ver se havia algum indício de insalubridade e constatar a situação em que a criança vivia, mas ela negou. Apenas trouxe a criança até uma brecha da porta, onde vi que ela estava muito branca, por não ter contato com o sol e maltratada”, relata o conselheiro.
Ao presenciar a situação, a Polícia Militar foi acionada e, após três horas para chegar no local, disse não poder fazer nada, pois “não havia consistência” na denúncia feita pelo conselho.
Na segunda-feira (4), o pai da criança, que é separado da mulher, conseguiu entrar na casa e tirar a menina do local. Por ter a guarda da filha, o homem fez a denúncia na DPCA, nesta terça-feira, denunciando a situação em que a criança vivia.
A menina, retraída e de pouca fala, segundo comentou o conselheiro, prestou depoimento à equipe técnica, que registrou o relato.
A família recebia acompanhamento do Conselho Tutelar desde 2016. Neste ano, a suspeita de cometer o crime de cárcere privado recebia cuidados no Centro de Atenção Psicossocial (Caps). “Em 2017 o avô da garota decidiu levá-las para Alagoas, onde ele mora. Como de praxe, encaminhamos o acompanhamento para o Conselho Tutelar do bairro onde iriam residir”, conta Pitter.
Foi perdido o controle da situação quando a mãe e a garota retornaram ao Recife e os órgãos daqui não foram avisados pelos do outro Estado. “Elas voltaram em 2018, mas só ficamos sabendo semana passada, quando começaram a chegar as denúncias”, esclareceu.
O caso também será registrado no Ministério Público. “A criança diz que quer ficar com o pai. Levaremos a denúncia ao MPPE que tomará as decisões cabíveis a esse tipo de caso”, pontua Thalles.