No dia 23 de outubro, a reportagem do JC teve conhecimento de uma mensagem que circulava pelo WhatsApp de médicos pernambucanos sobre um evento inusitado: desde agosto, alguns deles estavam a perceber um aumento incomum no número de recém-nascidos com microcefalia. As primeiras informações que chegaram à redação levantavam a hipótese de que os casos recentes dessa anomalia congênita teriam uma possível relação com quadros de infecção causados pelo vírus da dengue, chicungunha ou zika durante a gestação. O primeiro passo foi checar com os especialistas se esse evento inusitado realmente estava sendo observado nas maternidades, já que a literatura científica mundial não apresenta casos da microcefalia associados com zika e demais doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
Na primeira matéria, publicada no dia 24 em caráter inédito, a neurologista infantil Adélia Henriques Souza ressaltou que essa nova hipótese foi levantada porque, desde o começo do ano, Pernambuco vive uma epidemia de dengue, que coincide com o período de gestação das mulheres que recentemente deram à luz um bebê com microcefalia. Naquela ocasião, ela já deixava claro que jamais poderia ser feita qualquer relação de causa e efeito. Na mesma matéria, o médico Carlos Brito, pesquisador colaborador do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, alertou para o fato de ter observado, num período de apenas 15 dias, 26 novos casos dessa condição em recém-nascidos. Desde então, uma força-tarefa foi criada para se descobrir o agente que pode estar causando o aumento no número de recém-nascidos com microcefalia.
No dia 27, o blog Casa Saudável, do portal NE10, anunciou em primeira mão que o Ministério da Saúde já estava com uma equipe no Estado para fazer investigações e busca ativa dos casos. Nesse mesmo dia, o JC comunicou sobre a criação da Câmara Temática de Microcefalia do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), coordenada por Carlos Brito. No dia 2, ao analisar a Plataforma do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde de Pernambuco (Cievs/PE), a reportagem tomou conhecimento de que o Estado já estava ciente de 90 bebês com a anomalia, que passou a ser de notificação compulsória imediata
Quando o JC noticiou, no dia 11, o avanço da microcefalia em Pernambuco, com a notificação de 141 casos, o cenário ganhou dimensão nacional e fez o Ministério da Saúde declarar estado de emergência em saúde pública no País. A reportagem continua a acompanhar a investigação e a cobrar das autoridades públicas que tão logo seja descoberto o que tem levado à mudança no padrão de ocorrência da microcefalia.