Microcefalia: Força-tarefa analisa casos e planeja ações

Investigação epidemiológica analisa por que algumas mulheres que apresentaram manchas vermelhas na pele durante a gestação tiveram bebês com microcefalia e outras não
Cinthya Leite
Publicado em 20/11/2015 às 6:24
Investigação epidemiológica analisa por que algumas mulheres que apresentaram manchas vermelhas na pele durante a gestação tiveram bebês com microcefalia e outras não Foto: Edmar Melo/JC Imagem


Desde o dia 23 de outubro, quando a Secretaria Estadual de Saúde (SES) criou o Comitê de Operações de Emergências em Saúde para estudar as possíveis causas do avanço da microcefalia, a força-tarefa formada por vários pesquisadores analisa novos casos e planeja ações de cuidado para gestantes, mães e bebês. Faz parte desse trabalho uma investigação epidemiológica da qual participa o Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco. Trata-se de um estudo envolvendo gestantes que, em ultrassom, receberam a informação de que o filho apresenta microcefalia, e mulheres que já deram à luz bebês com a malformação.

“Investigaremos por que algumas mulheres que apresentaram manchas vermelhas na pele durante a gestação tiveram bebês com microcefalia e outras não”, explica o médico Carlos Brito, pesquisador colaborador do CPqAM. Ele acrescenta que o estudo, coordenado pela pesquisadora Celina Maria Turchi, analisa se, além do zika vírus (um dos possíveis responsáveis pelo aumento no número de casos de microcefalia), há fatores de risco que podem estar correlacionados ao vírus. “Estamos considerando o momento da gestação em que a mulher foi exposta ao zika, a faixa etária, o número de gestações e relatos de outras infecções.” 

O médico informa que o estudo considera fatores genéticos que podem proteger algumas pessoas de infecções graves. “Já se sabe que isso acontece com a dengue, e essa constatação não deve ser diferente para outras arboviroses (doenças transmitidas por mosquito). Isso sugere que não é só ter contato com o vírus para a pessoa desenvolver complicações. Há indivíduos que podem ter algum mecanismo de defesa”, reforça o pesquisador. 

Apesar de o Ministério da Saúde considerar “altamente provável” a correlação entre o aumento no número de casos de microcefalia com infecção das gestantes pelo vírus da zika, não se pode afirmar a relação direta. “Nem toda grávida que tiver zika ou teve manchas vermelhas no corpo terá bebês com microcefalia, como se observa em muitas gestantes em Pernambuco”, salienta o diretor-geral de Controle de Doenças e Agravos da SES, George Dimech. 

A possível ligação entre zika e microcefalia amplia a atenção dos pesquisadores para o vírus, relacionado a complicações neurológicas. O Ministério da Saúde, em parceria com a SES, identificou, em Pernambuco, 127 casos suspeitos da síndrome de Guillain-Barré (condição neurológica rara e autoimune que provoca quadro progressivo de paralisia em membros do corpo e fraqueza muscular). Desse total, 46 casos foram confirmados. A associação entre Guillain-Barré e a possibilidade de infecção viral prévia foi observada em 22 casos suspeitos. Parte dos pacientes apresentou manchas vermelhas na pele, dor nas articulações, febre, cefaleia, prurido e dor muscular. Houve confirmação de zika vírus pelo CpqAM/Fiocruz em um dos pacientes investigados. “Mas não se pode afirmar qual enfermidade está associada aos demais casos, enquanto a investigação laboratorial dos outros casos não for concluída”, diz a SES, em nota divulgada na quinta-feira (19).

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