Há meses, agentes de saúde tentam conter a proliferação do Aedes aegypti com um trabalho de porta em porta em todo o Estado de Pernambuco. Nessa missão, eles ainda encontram desafios para conter o avanço da tríplice epidemia, como imóveis abandonados e dificuldades para entrar em locais com possíveis focos de larvas do mosquito, mesmo com campanhas que alertam para os perigos das arboviroses. Em Paulista, no Grande Recife, o caminho para tentar eliminar o alto risco de criadouros do Aedes é recorrer à entrada forçada em imóveis fechados com criadouros, como já acontece em outras cidades. Ontem, no primeiro dia de trabalho, em ação coordenada pela Secretaria de Saúde de Paulista, agentes de combate a endemias e guardas municipais visitaram três residências no bairro de Jardim Paulista.
Os proprietários foram notificados previamente e receberam um prazo de até 15 dias para procurar o órgão fiscalizador, mas não cumpriram o determinado. Um dos moradores apresentou bastante resistência para receber os agentes e pediu para reagendar a inspeção para a próxima semana. Um outro morador permitiu o acesso da equipe, que encontrou lixo e uma caixa-d’água com larvas. Nela, foi aplicado larvicida biológico.
Na terceira casa, abandonada, o problema já havia sido resolvido quando os agentes chegaram ontem ao local. No quintal, não foram encontrados mato e lixo acumulado (potenciais focos do mosquito), como se constatou na segunda tentativa de vistoria. “Os proprietários da casa fizeram a limpeza e, por isso, não precisamos fazer a entrada forçada”, disse o superintendente de Vigilância em Saúde de Paulista, Fábio Diogo da Silva.
Desde abril, quando foi regulamentada a Lei 4.589/2016, a Secretaria Municipal de Saúde contabilizou 18 casas que apresentaram recusa dos moradores ou que estavam fechados no momento em que os agentes passaram para a inspeção. Os imóveis ficam nos bairros de Arthur Lundgren I (6), Janga (7) e Jardim Paulista (5). “Para identificar essas casas, contamos com o apoio da população, que fazem denúncias pelo telefone e especialmente por meio do aplicativo Xô Aedes Paulista. Através dessa ferramenta, já recebemos 683 reclamações relativas a casas com focos do mosquito”, informou Fábio Diogo.
Ele acrescenta que, apesar de iniciada a permissão do ingresso forçado em imóveis no caso de abandono ou de recusa para permitir o acesso dos agentes, o município ainda não aplicará multas aos moradores. “A penalidade está até prevista em lei, mas ainda queremos fazer um trabalho educativo com a população.” Nos próximos dias, a prefeitura continuará a realizar as vistorias regulares nos imóveis (são previstas 30 inspeções por dia) e a entrar em casas com dificuldade de acesso. Em Paulista, 1.126 pessoas já adoeceram com sintomas de arboviroses este ano (foram 998 casos suspeitos de dengue e 128 de chicungunha).
NO RECIFE
Os agentes de saúde ambiental e controle de endemias do Recife também têm encontrado dificuldades para combater os criadouros durante as inspeções. De janeiro a maio, foram inspecionados 763.876 imóveis na capital pernambucana. Além disso, 263.213 estavam fechados e, em 3.766 casas, houve recusa para o acesso da equipe.
Apesar do trabalho de combate ao mosquito realizado pela prefeitura, a cidade continua em estado de epidemia. Só neste ano são mais de 22 mil casos suspeitos de arboviroses – um aumento de 3,9% das notificações, em comparação com o mesmo período de 2015, que já foi considerado um ano de epidemia. Além disso,o Recife já contabiliza 87 óbitos suspeitos por arboviroses até o dia 21 de maio. O número é três vezes maior do que o registrado durante todo o ano de 2015, quando se notificaram 29 mortes suspeitas.