Um ano e meio após o nascimento dos primeiros bebês que apresentam comprometimentos decorrentes da síndrome congênita do zika, pesquisadores já conseguem estimar a frequência de crianças acometidas pelo vírus que podem ter crises convulsivas, deficiências visual e auditiva, além de outras complicações. Agora a ciência quer ir além e sistematizar informações sobre efeitos da zika nas relações familiares e na sociedade, além de compreender o custo humano da epidemia.
Para ter respostas, pesquisadores decidiram ouvir relatos de famílias, especialmente mulheres, que têm crianças com a síndrome congênita do zika. Esse universo será protagonista de um estudo financiado pela Wellcome Trust (fundação do Reino Unido), iniciado esta semana e que terá duração de um ano.
Os detalhes da pesquisa foram apresentados, na terça-feira (31/1) no workshop Impactos Sociais e Zika, que termina nesta quarta-feira (1º/2) na Fiocruz Pernambuco, na Cidade Universitária, Zona Oeste do Recife. O estudo, com custo de 300 mil libras (cerca de R$ 1.190.000), será coordenado nacionalmente pelas unidades da Fiocruz de Pernambuco e do Rio de Janeiro. Foram direcionadas 90 mil libras (em média, R$ 357 mil) para cada uma das instituições.
Além de dar voz às mães, os pesquisadores vão entrevistar avós e demais cuidadores das crianças afetadas pelo vírus. “Vamos avaliar o impacto (da zika) com base nas palavras das próprias famílias. Também vamos ouvir as mulheres grávidas que contraíram zika e as que não tiveram a infecção, a fim de entender o sentimento delas em relação ao diagnóstico, como também avaliar o grau de ansiedade e incertezas”, informou a coordenadora internacional do estudo, Hannah Kuper, da London School of Hygiene & Tropical Medicine, no Reino Unido.
Ela acrescenta que participarão da investigação as famílias dos bebês que já fazem parte dos projetos desenvolvidos, em Pernambuco, pelo Grupo de Pesquisa da Epidemia da Microcefalia (MERG, na sigla em inglês).
“Vamos trabalhar com questionários para identificar se as mães dessas crianças apresentam quadros depressivos, angústia e ansiedade, além de traçar o perfil social dessas mulheres. Queremos avaliar o sentimentos delas. Esperamos que o resultado possa contribuir para gestores públicos formularem políticas que atendam as demandas dessas mulheres”, destacou a médica sanitarista Tereza Lyra, coordenadora do estudo no Estado.
A pesquisadora acrescenta que também serão avaliados os discursos das mães com base na vivência sexual e reprodutiva de cada uma. “Acreditamos que muitas tiveram que redefinir seus planejamentos familiares. E do ponto de vista econômico e social, muitas abandonaram seus empregos. Essas são as questões importantes para ser melhor compreendidas do ponto de vista científico”, conclui Tereza.