Após o diagnóstico de morte encefálica, um só paciente pode se tornar doador de órgãos e tecidos para beneficiar até sete pessoas que sonham em celebrar vida nova após o transplante. “Essa é uma forma que se tem de exercer a generosidade após a morte. Quando a família autoriza a doação de um parente que faleceu, é experimentada a prática de amor ao próximo; é fazer o bem sem olhar a quem. Diante da dor (do luto), que não é pequena, pratica-se a bondade”, diz a enfermeira Noemy Gomes, coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE). O depoimento se harmoniza com o significado da Páscoa, uma festa associada ao renascimento, renovação e recomeço.
Ao analisar os números que têm colocado Pernambuco em destaque no cenário nacional de transplantes (o Estado é primeiro no Norte/Nordeste nos procedimentos de coração, medula óssea, rim e pâncreas), Noemy reflete como o contexto por trás da doação e transplante de órgãos ajuda a cultivar a empatia (tendência do ser humano para perceber o que sentiria caso estivesse em circunstâncias experimentadas por outra pessoa).
“Qualquer um pode precisar de um transplante ao longo da vida. As estatísticas mostram que a possibilidade de precisarmos de um órgão é seis vezes maior do que a chance de nos tornarmos doadores. Por isso, é importante capacitar profissionais de saúde sobre o processo de doação. São eles que dão segurança para uma família ter condições de decidir se os órgãos do parente com morte encefálica serem ou não doados.”
O taxista José Vanderlei Santiago, 64 anos, fala com alegria sobre o dia em que recebeu uma ligação informando que poderia receber um novo fígado. “Atendi o telefone às 23h e, em poucos minutos, já estava no Hospital Jayme da Fonte. Às 2h do dia 14 de junho do ano passado, começou a cirurgia, que me deu vida nova. Estava debilitado por causa da cirrose, causada pela hepatite C”, conta José Vanderlei, que passou 1 ano e 1 mês na fila de espera.
Um telefonema também encheu de esperança o coração da dona de casa Erlonilde Freire, 33, mãe de Elana Vitória Freire, 11. A menina passou a apresentar sintomas de leucemia desde os 4 anos. Elas moram em Cruzeiro do Sul (interior do Acre). “Soube em dezembro que havia uma doadora de medula óssea compatível com a minha filha. Em janeiro, viemos ao Recife. O transplante foi realizado em 2 de fevereiro deste ano, um dia após o aniversário de Elana Vitória”, diz Erlonilde.
O procedimento foi feito no Real Hospital Português, referência no Norte/Nordeste em transplante de medula óssea. Daqui a uns meses, elas voltam para o Acre, onde Elana Vitória vai frequentar a escola pela primeira vez. Aprenderá um bocado de lições, sem deixar de lado o sorriso que carrega para agradecer pela vida nova que ganhou para correr atrás dos seus sonhos.