Secretaria de Saúde de Pernambuco investiga casos de agulhadas no Carnaval 2020

Em relatos feitos na redes sociais, uma das vítimas contou que foi agredida, quando brincava em Olinda. Ela diz que procurou atendimento e foi medicada com um coquetel para evitar contaminação de doenças sexuais
JC Online
Publicado em 23/02/2020 às 10:28
Em relatos feitos na redes sociais, uma das vítimas contou que foi agredida, quando brincava em Olinda. Ela diz que procurou atendimento e foi medicada com um coquetel para evitar contaminação de doenças sexuais Foto: Foto: Secretaria Estadual de Saúde


Atualizada às 18h30 do dia 23/2/2020

A Secretaria Estadual de Saúde está apurando a ocorrência de possíveis casos de foliões agredidos por agulhas de seringa durante o Carnaval deste ano. Durante a manhã deste domingo (23), o Hospital Correia Picanço, na Zona Norte do Recife, recebeu cinco ocorrências de vítimas que sofreram a agressão no sábado (22). No final da tarde do domingo, a secretaria divulgou a primeira nota oficial sobre o assunto, afirmando que 23 casos haviam sido notificados entre os dias 15 e 22 de fevereiro.

Das cinco vítimas que procuraram a unidade de saúde neste domingo, três disseram ter sido agredidas em Olinda e duas no Recife, durante o desfile do Galo da Madrugada. Uma das pessoas atacadas no percurso do bloco contou que a agressão aconteceu na altura da Avenida Dantas Barreto, por volta das 17h40, já no fim do desfile, segundo a vítima.

Ouça 2 depoimentos. Vozes foram distorcidas a pedido das vítimas

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“Estava em grupo com minha família quando senti uma picada de leve na minha coxa e não dei crédito na hora. Passei a mão no local e até olhei para o indivíduo (agressor). Tentei avisar a ele que alguma coisa que ele segurava estava machucando as pessoas, mas não dei crédito, passei a mão e prossegui”, conta a vítima, que pediu para não ser identificada.

Em seu relato, ela denuncia que policiais militares que faziam o policiamento ao longo do cortejo foram informados da agressão, mas se recusaram a atender a ocorrência. 

Entre os casos de agressão ocorridos em Olinda, uma das vítimas contou que sentiu a furada quando passava pela Travessa João Alfredo, na Cidade Alta, também por volta das 18h do sábado (22). A vítima diz ter sentido uma picada no ombro direito. Ela não conseguiu identificar o possível agressor e também não chegou a procurar as autoridades policiais nem o posto médico instalado nos focos de folia.

Apenas no dia seguinte, neste domingo (23), ela resolveu procurar o Hospital Correia Picanço, após ver outros relatos de vítimas na internet. “Quando foi hoje, eu vi relatos nas redes sociais de outras pessoas que teriam sido vítimas, e decidi vir para cá para fazer exames. A reação foi só na hora da picada. Depois, não senti nada”, disse.

REDE SOCIAL

Em relatos feitos na redes sociais, uma das vítimas contou que foi agredida quando brincava em Olinda. Ela diz que procurou atendimento e foi medicada com um coquetel para evitar contaminação de doenças sexuais. Na postagem, ela não informa a unidade em que foi atendida.

Funcionários do Hospital Correia Picanço, na Tamarineira, informaram que também uma criança foi levada à unidade, com suspeita de ter sido vítima de agulhada, mas o caso teria sido encaminhado ao Imip, na área central do Recife, pela paciente ser menor de idade.

Em nota, divulgada no início da manhã deste domingo, a Secretaria de Defesa Social informou que, até aquele momento, nenhuma queixa havia sido prestada em relação a esse tipo de agressão. Uma equipe de policiais civis, no entanto, foi enviada para a unidade de saúde, com o objetivo de ouvir o depoimento das vítimas e registrar os boletins de ocorrência.

CARNAVAL 2019

No Carnaval do ano passado, houve registro de mais uma centena de casos de vítimas de agulhadas, em Olinda e Recife. Um inquérito policial foi aberto e, com base no depoimento das vítimas, a polícia fez o retrato falados de possíveis suspeitos.

Em relação ao inquérito aberto no ano passado, a SDS informou que as investigações continuam a cargo da Delegacia do Rio Branco, no Bairro do Recife, mas até o momento ninguém identificou os retratos falados.

VEJA A NOTA DA SECRETARIA DE SAÚDE DE PERNAMBUCO

A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), por meio do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância à Saúde (Cievs) informa que recebeu a notificação de 23 pessoas, entre os dias 15 a 22 de fevereiro, que alegaram terem sido furadas por agulhas durante as festas de Carnaval em Recife e Olinda. Deste total, 21 deram entrada no Hospital Correia Picanço, sendo no último sábado (22.02), 12 pessoas relatando a mesma ocorrência. Os pacientes foram admitidos na unidade, referência estadual em doenças infecto-contagiosas, e, após triagem, 20 realizaram a profilaxia pós-exposição (PeP) para prevenir a infecção pelo HIV e outras infecções. Dos 23 casos, 15 são do sexo feminino e 8 masculino.

Os demais, ou se recusaram a fazer o teste rápido (pré-requisito para o uso da medicação), e, consequentemente, o tratamento, ou já tinham passado da janela de 72 horas preconizadas para início da medicação. Todos foram liberados após avaliação médica, com a orientação de retorno após 30 dias para conclusão do tratamento.

Todos os pacientes foram orientados a realizar o monitoramento de possíveis infecções no Serviço de Atenção Especializada (SAE) do próprio Correia Picanço, ou nos municípios de residência dos paciente. É importante ressaltar que os índices de transmissão por meio de picadas com agulhas infectadas são considerados baixos, em média 0,3% para HIV.

Em 2019, 300 pessoas deram entrada no Hospital Correia Picanço alegando terem sido furadas por seringas durante os festejos de Momo. A SES-PE destaca que não houve casos positivos desse evento.

SEGURANÇA - A Polícia Civil de Pernambuco informa que recebeu, neste Carnaval, denúncias de 12 pessoas relatando terem sido picadas ou sentido pontadas causadas por algum tipo de objeto perfurocortante. Dez denúncias foram feitas ontem (22) e duas, neste domingo (23).

A PCPE instaurou inquérito e está apurando os fatos. A PCPE alerta para o cuidado no trato do tema, para não causar pânico desnecessário na população. No ano passado, dos casos relatados ao Hospital Correia Picanço, apenas duas pessoas se prontificaram a prestar depoimentos à Polícia. Retratos falados foram feitos, diligências, análise de imagens, mas os inquéritos não identificaram suspeitos devido à ausência de elementos, assim como uma possível motivação para essas ações.

Mas a missão da Polícia é prevenir o crime, apurar as denúncias com rigor e reprimir qualquer tipo de violência. Por isso, neste Carnaval, a PCPE montou uma posto de atendimento 24h no Hospital Correia Picanço. A unidade conta com equipes formadas por delegados, escrivães, agentes e peritos papiloscopistas, para colher depoimentos, fazer as perícias, diligências e buscar imagens das câmeras de videomonitoramento com o objetivo de identificar e capturar suspeitos dessa prática.

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