Relação de Zélia Gattai e Jorge Amado é tema de exposição

Caixa Cultural expõe recortes da vida dos intelectuais a partir do dia 26 de novembro
Márcio Bastos
Publicado em 26/11/2019 às 13:53
Caixa Cultural expõe recortes da vida dos intelectuais a partir do dia 26 de novembro Foto: Divulgação


Sempre que ouvia o dito machista de que por trás de um grande homem há uma grande mulher, Jorge Amado respondia que sua companheira, a artista e intelectual Zélia Gattai, nunca esteve à sua sombra, mas ao seu lado, de mãos dadas. Essa relação de profundo companheirismo e amor, que atravessou cinco décadas e ainda ressoa na cultura brasileira, é tema da exposição inédita Amados – Zélia & Jorge, que é aberta dia 26 de novembro, às 19h, na Caixa Cultural.

Com curadoria da filha do casal, Paloma Jorge Amado, a mostra é, em sua essência, um convite à sublimação da dureza do cotidiano a partir de um sentimento que, em tempos de intolerância, pode parecer uma utopia: o amor.

“Acho que tem muito a ver com a necessidade de mostrar pessoas que lutaram muito e viveram momentos de imensa paz, alegria e felicidade. Recriando aqui os 56 anos de amor dos dois, a gente está abrindo um espaço para as pessoas se encantarem e olharem momentos de amor, de solidariedade, de paz, alegria, de luta também. Tudo isso não é uma fantasia, não é um sonho: concretamente existiu”, afirmou Paloma.

Para convidar o público a essa imersão afetiva, a exposição aposta na sensorialidade. Além do material dos acervos da Fundação Casa de Jorge Amado e do memorial Casa do Rio Vermelho, foram desenvolvidas instalações que evocam momentos chaves da vida do casal. Uma delas é composta por tubos que “sussuram” frases de amor retiradas dos livros e cartas escritos por eles.

Outra projeta uma chuva de cravos, em alusão ao dia em que, na presença do poeta chileno Pablo Neruda, Amado encheu com essas flores o táxi onde ia com Zélia e a convidou para morarem juntos. A história pode ser ouvida a partir do relato da intelectual, em um dos vários vídeos, áudios e fotos que compõem a mostra. Fotógrafa talentosa, Gattai registrou muitos momentos da intimidade familiar, além dos vários amigos do casal, constituindo um material de valor imensurável.

CONTEMPLAÇÃO

A curadora ressalta ainda que o visitante vá à exposição sem pressa. Um redário possibilitará que o público aprecie com calma cartas trocadas por eles, exercitando um dos hábitos preferidos do escritor, que dizia se inspirar muito quando estava em uma rede.

Destaque ainda para a estrutura que simboliza uma gameleira, árvore emblemática para algumas religiões afro-brasileiras. Ela seria a representação e morada do orixá Iroko, ligado à ideia do tempo e se manifesta em espaços inesperados, como foi o caso da parede do quarto do de Zélia Gattai e Jorge Amado, uma semana após a morte do escritor. “A gameleira é uma árvore grande com muitas raízes e, com isso, a gente quer dizer que a vida de Zélia e Jorge deixou raízes profundas”, enfatizou.

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