Filme alemão leva o terrorismo europeu ao Festival de Cannes

Em Aus Dem Nicht, turco-alemão Fatih toca numa ferida aberta do continente
Ernesto Barros
Publicado em 27/05/2017 às 6:30
Em Aus Dem Nicht, turco-alemão Fatih toca numa ferida aberta do continente Foto: Divulgação


O atentado a bomba que deixou 22 pessoas mortas em Manchester, na Inglaterra, no início dessa semana, veio à mente da plateia de jornalistas durante a exibição da produção alemã Aus Dem Nicht, exibida nesta sexta-feira (26;5), que concorre à Palma de Ouro do Festival de Cannes 2017. No longa-metragem, dirigido por Fatih Akin, uma bomba caseira fabricada por um casal neonazista bota de ponta-cabeça a vida de uma mulher.  

Filho de pais turcos, Fathi Akin sempre tentou capturar as contradições políticas, sociais e culturais da Alemanha, em filmes como Contra a Parede, Do Outro Lado e Soul Kitchen. Mais uma vez, o cineasta nascido em Hamburgo cria um microcosmo familiar, a partir do encontro entre uma alemã e homem turco, para mostrar que basta acender um fósforo que a mistura racial em seu país deixa à vista sua fragilidade.

Assim como em Contra a Parede, o filme tem como protagonista uma mulher. A primeira cena se passa na prisão. É um casamento entre uma alemã e um traficante turco. Anos depois, já com um filho, Katja (Diane Kruger) e Nuri (Numan Acar) vivem felizes, como vemos nos vídeos gravados por celular, que pipocam durante o filme. Mas Akin não demora muito para colocar Katja no olho do furacão do terrorismo, quando uma bomba deixa-a sem o marido e o filho de seis anos.

VINGANÇA

A partir da luta dessa mulher, que acredita na justiça, o cineasta mostra que situações desse tipo podem resvalar para ações pessoais, quando o estado não consegue fazer com que os culpados sejam levados à prisão. No seu segundo momento, Aus Dem Nicht segue os passos de Katja na Grécia, atrás do casal que se safou no tribunal.

Colado à sua personagem, Akin faz com que o espectador sinta as batidas do coração de Katja em sua busca por vingança. Apesar da direção vigorosa, o filme não é um espetáculo truculento, mas certamente há uma ode ao sacrifício, com toda a ambiguidade que isso significa.

Diane Kruger, embora nascida na Alemanha, só havia trabalhado em filmes estrangeiros, como Bastardos Inglórios e Adeus, Minha Rainha, pela primeira vez atua num filme produzido no seu país. Ela está ótima e sua intepretação já a colocou entre as mais fortes candidatas ao prêmio de melhor atriz do festival deste ano.

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