Quando esteve no Brasil para falar da próxima estreia do novo Homem-Aranha, Tom Holland não se furtou a comentar com o repórter sua experiência em Z - A Cidade Perdida. "Você viu o filme? O cara (o diretor James Gray) é louco, mas foi uma experiência seminal para mim. Filmar na selva pode ser muito difícil e desgastante, mas, se você quer tornar palpável o que, no fundo, é uma história de obsessão, tem de viver esse sentimento." Tom Holland faz o filho de Charlie Hunnam, que interpreta o aventureiro Percy Fawcett.
Coronel do Exército inglês, Faewcett tem esse sonho de encontrar, na Amazônia, a cidade perdida de Z. Embrenha-se na selva. Durante anos vive esse inferno. Volta à Inglaterra e, a despeito do que para os outros é seu fracasso, resolve voltar. Dessa vez com o filho (Tom Holland). "Esse reencontro de pai e filho é uma coisa meio mítica. James brincava. Dizia que seus filmes anteriores já recriavam o inferno na Terra, mas ele dizia que nunca esperaria ter encontrado o inferno de verdade, e foi na Amazônia. Nunca vivi nada parecido. Você interage com a selva, não é o green screen de O Homem-Aranha", esclareceu Holland.
Em Berlim, na coletiva, Charlie Hunnam disse que o papel como Fawcett foi sua "melhor oportunidade" (pelo menos antes de Rei Arthur). Robert Pattinson, que participa da expedição, disse que o filme pode ter sido um inferno para fazer, mas, como aventura, é real, comprometida mais com o humano do que com a fantasia. James Gray, mesmo relutante, definiu seu conceito de "inferno". "Claro que não enfrentamos as mesmas condições de Fawcett, e o tempo todo sabíamos o que estávamos fazendo, um filme. Mas havia o calor insuportável, a umidade, os insetos, os crocodilos e as aranhas.
Minha mulher visitou o set, e, mesmo assim, se assustou quando regressei. Estava com uma barba enorme e a cara de um Moisés louco. Face às dificuldades, não me restava outra coisa senão ficar 100% focado no filme. A sensação, para um diretor que também é cinéfilo, é que estava encontrando os heróis da minha infância."
E que herói, ou heróis são esses? Indiana Jones? "Aguirre, a Cólera dos Deuses, que para mim é o maior filme de Werner Herzog, e Apocalypse Now, embora seja outro contexto. É curioso que Hollywood tenha feito poucos filmes de aventura na América Latina. Temos Entre Dois Amores (de Sidney Pollack), que é um belo filme, mas racista na maneira de olhar o negro, o outro. Hollywood sedimentou esse tipo de visão ao longo do tempo. Não é a mesma coisa que com os latinos, embora também exista muito preconceito e, nesse momento (fevereiro), o presidente (Donald) Trump esteja falando em muro para isolar o México."
Seria interessante debater com Gray como seu filme oferece o ponto de vista do branco colonizador, em oposição ao colonizado de O Abraço da Serpente, de Ciro Guerra, também desenrolado na Amazônia, mas a diversidade dos interesses de uma coletiva não permitiu a abordagem. Gray, de qualquer maneira, sabe o filme que fez, ou quis fazer - "Como em tudo o que fiz antes, a família está no centro de Z - A Cidade Perdida. Fawcett e a mulher, o filho. É extraordinário que ele tenha tido uma mulher apaixonada como a personagem de Sienna Miller, que nunca deixou de honrar e procurar esse marido aventureiro. Se Z foi a obsessão de Fawcett, então pode-se dizer que ele foi a obsessão de sua mulher."
Foram muitos anos para concretizar o filme. No meio do caminho, Gray desenvolveu outros projetos, sem nunca desistir de Z - A Cidade Perdida. "Perguntem à minha mulher, ela vai dizer que mudei muito entre o primeiro momento em que me interessei pelo tema e o filme concluído. Provavelmente, seria outro filme, se o tivesse feito anos atrás. Não sei nem se teria trabalhado com Darius (Khondji), que fez um trabalho brilhante de captação das cores e luzes da selva. O que sei é que, amadurecendo o projeto, fui percebendo cada vez mais a transcendência na busca de Fawcett." Nesse sentido, o desfecho é magnífico. Um dos grandes filmes do ano.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.