Em cartaz nos cinemas de São Paulo ao lado de Jessica Chastain em A Grande Jogada, o inglês Idris Elba causou nesta quinta-feira, 22, na Berlinale um rebuliço que nenhum medalhão americano de Hollywood aqui presente chegou perto de provocar: tinha fã-clube com faixas escritas "We love you, Idris" na frente dos cinemas onde seu primeiro longa como diretor, Yardie, está sendo exibido.
Há uma semana, a eletrizante versão dele para o romance de Victor Headley teve uma primeira projeção no festival alemão, mostrando a influência estética de Cidade de Deus sobre seu modo de filmar. Esperava-se que ele estivesse aqui no dia (sexta passada), mas compromissos com a teledramaturgia (ele protagoniza a série Luther, hoje no menu da Netflix; e prepara In The Long Run para a Sky 1, da Inglaterra) atrasaram sua chegada, o que deixou o público alemão jururu com sua ausência. Agora a cidade vai à forra, num sinal da popularidade desse britânico de 45 anos de descendência africana (seu pai é de Serra Leoa; a mãe, de Gana). Ele virou um símbolo político na discussão da representatividade negra no audiovisual.
"Dirigi um filme com jovens que são negros, mas busquei uma questão universal que vai além da cor: a aprendizagem para se lidar com um trauma. Não defino o cinema por cor da pele e sim pela força das histórias que desejo contar", disse Elba ao jornal "O Estado de S. Paulo", elogiando o cult de Fernando Meirelles.
Dali veio a base visual de Yardie, cuja trama gravita entre a Jamaica de 1973 e os submundos da Londres de 1983, conforme acompanha o amadurecimento de D. (Aml Ameen), um traficante que busca no crime se vingar da morte de seu irmão. "Cidade de Deus ensinou ao mundo o que é autenticidade: aqueles rapazes e moças espelham aquele local, aquela realidade", admite Elba, que exibiu o longa em Sundance, em janeiro, antes de entrar na mostra Panorama de Berlim.
Ao longo de cenas de perseguição e tiroteio que impressionaram a Berlinale, Yardie mostra tradições religiosas da Jamaica ao registrar os confrontos de D. com o fantasma de seu irmão morto, que vai segui-lo pelas confusões em que ele se mete com um chefão do tráfico na Inglaterra e com sua namoradinha, hoje uma cristã fervorosa, Yvonne (Shantol Jackson). "A vida de D. se passa em ambientes muito masculinos.
Precisava ter cuidado de não descuidar da representação do feminino. E, como as regiões de periferia da Jamaica, de onde D. vem, são recheadas por mulheres muito fortes e guerreiras, quis trazer uma personagem de lá, para nortear seu caminho", diz Elba, cotado para ser o primeiro James Bond negro, substituindo Daniel Craig num futuro 007.