O adiantamento do Cine PE comprimiu a programação de quatro dias em dois, prejudicando as exibições da sexta e do sábado. Na noite de sexta (1º/6), o último filme só terminou no início da madrugada do dia seguinte. Embora seja ruim para a maior parte do público, que não aguenta a maratona até o fim, o grande prejudicado é o filme exibido por último, que acaba sendo visto por poucos espectadores. Apesar de não ter sido uma noite memorável – dos seis filmes exibidos, apenas dois se destacaram –, pelo menos dois momentos fizeram valer a ida ao Cinema da São Luiz.
Um deles, sem dúvida, foi a homenagem à atriz Cássia Kis, ganhadora de um Calunga de Ouro em virtude de sua carreira de 40 anos no teatro, na TV e no cinema. Em 2001, ela foi agraciada com um Calunga de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel de uma mãe em Bicho de Sete Cabeça, em que contracenou com Othon Bastos (o marido) e Rodrigo Santoro (o filho). Mal havia subido no palco, ela foi surpreendida pela presença de Gabriel Leone, que veio lhe entregar o troféu. O ator, que interpretou o filho dela na minissérie Os Dias Eram Assim, está no Recife para a gravação das cenas finais da supersérie Onde Nascem Fortes e foi convidado para reencontrar a mãe.
Devido aos compromissos com a carreira, os dois não se viam desde o ano passado. Para matar a saudade, se abraçaram, trocaram um selinho e confidenciaram momentos do trabalho na minissérie. “A referências se extrapolaram e me sinto feliz em ser seu filho dentro e fora da cena”, disse o ator. Emocionada, Cássia falou do momento em que está vivendo ao chegar aos 60 anos. “Aprendi a não julgar mais ninguém e o lugar mais fiel de pesquisa agora é a minha vida. E ainda sou mãe de quatro filhos, e solteira”, concluiu, para receber uma grande salva de palmas do plateia, que lotou o São Luiz por completo.
Entre os filmes, o que mais chamou a atenção foi Uma Balada para Rocky Lane, de Djalma Galindo, da Mostra Competitiva de Curtas-Metragens Pernambucanos. Figura lendária da cidade de Arcoverde, no Sertão do Estado, o curta resgata a história de José Leite Duarte, que desde jovem tomou para si a alcunha de ator americano de filmes de faroeste das décadas de 1940 e 1950. Funcionário do Cinema Bandeirante, que hoje não existe mais, ele era encarregado de pegar os cartazes e as latas de películas na estação de trem da cidade.
Fascinado pelo personagem, que conheceu na infância, Djalma Galindo homenageia seu ídolo com todo o respeito que ela merece. Durante toda a vida – morreu em 2011, aos 78 anos –, Rocky Lane viveu e respirou cinema. Escreveu, inclusive, a história do Cinema Bandeirante. Com a ajuda de imagens gravadas pouco antes de sua morte e depoimentos de familiares, amigos e admiradores, que contam detalhes extravagantes de sua vida, o filme emociona e arranca lágrimas e risos da plateia.
Outro filme que de destacou foi Os Príncipes, do carioca Luiz Rosemberg Filho, que começou a ser projetado um pouco depois das 11h. Não é o melhor dos últimos filmes do veterano cineasta, recentemente resgatado do esquecimento pelo produtor Cavi Borges. Seu filme anterior, o belíssimo Guerra do Paraguay, é bastante superior a Os Príncipes em todos os sentidos. De certa maneira, para além de todas as diferenças de espaço e tempo, os dois filmes têm muito em comum: são críticas violentas ao poder do Estado e da inata violência que habita o coração do homem.
O problema é que Os Príncipes, ao lidar com a violência extrema para criticar o estado de coisas em que vivemos, deixa-se contaminar além da conta de sua virulência. Numa cena, os personagens masculinos, denominados príncipes, por não pertenceram à classe trabalhadora e terem o privilégio de se excederam no sexo e na violência, citam Laranja Mecânica. So que Kubrick conseguiu algo raro ao se equilibrar no fio da navalha da crítica à violência ou simplesmente uma ode a ela.