Filha de um arquiteto e de uma dona de restaurante, única atriz numa família de sete irmãos, a carioca Adriana Moraes Rego Reis, conhecida pelo público como Drica Moraes, é a primeira homenageada da 23ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual, que ocorrerá de 29 de julho (dia em que, inclusive, a artista completa 50 anos de idade) a 4 de agosto.
A carreira de Drica como atriz começou aos 13 anos de idade, quando conheceu o teatro amador no Rio de Janeiro. Mas foi aos 17 anos que ganhou notoriedade nacional ao entrar na televisão.
Desde então, a trajetória já tem mais de três décadas. “Vivi uma época muito rica do teatro. Ele não sofria o que sofre hoje em relação a preconceito das artes, de marginalidade. Eram montados grandes clássicos, havia uma vanguarda rica”, conta Drica, por telefone, em entrevista ao Jornal do Commercio.
O sucesso no teatro e na TV, porém, a levou tardiamente às telonas. Mas nem por isso a artista gosta menos do veículo que lhe homenageará aqui em Pernambuco. “Eu fiz pouco cinema quando jovem. Eu fiz As Meninas em 1996, um filme pelo qual eu tenho muito carinho, com a Adriana Esteves e Claudia Liz. Mas cinema eu vim fazer mesmo a partir dos anos 2000, com Getúlio (2013) e Bruna Surfistinha (2011), onde até ganhei prêmio”, relembra a atriz, que também pode ser vista nos longas Rasga Coração (2018), de Jorge Furtado, e O Banquete (2018), de Daniela Thomas. “Foi a atividade que eu iniciei mais tardiamente, mas é por qual eu tenho maior fascínio, desejo, paixão e vontade de fazer mais”, ressalta.
Drica Moraes explicou os motivos de o cinema ser um veículo tão atrativo para seu trabalho de atriz. “Essa capacidade de contar uma narrativa num curto período de tempo, com os recursos que o cinema tem, seja imagética, de roteiro, acho muito saboroso, desafiador e muito mágico. É um processo que me encanta muito. Se eu pudesse passar o resto da minha vida fazendo só cinema, eu seria uma atriz realizada”, confessa.
Essa aproximação com a tela grande fez com que ela também conhecesse a força do cinema pernambucano: “Tenho uma admiração profunda por Pernambuco, seus artistas, e principalmente pelos cineastas, que estão entre os melhores do Brasil. É o único cinema autoral, sem amarras com o mercado. É muito bom ter desde diretores mais conhecidos do grande público, como Cláudio Assis, Marcelo Gomes, Paulo Caldas, que são pessoas que fizeram a mudança, inauguraram uma nova fase do cinema pernambucano dentro do Brasil, além dessa nova geração que vem arrebentando, como Kleber Mendonça Filho, Gabriel Mascaro... Muita gente boa. Eu sonho em trabalhar com diretores pernambucanos, é um desejo profundo”.
Drica Moraes também tem percebido as dificuldades que é fazer cinema no Brasil atualmente: “Eu percebo diariamente. Meus colegas também, minha classe percebe a fragilidade que se encontra a cultura como um todo. Os projetos não decolam, caem do dia pra noite por questões misteriosas. Às vezes, por conta do conteúdo. Então há uma censura velada, não dita, mas há uma demonização da classe artística, como se nós fôssemos os culpados pela existência da corrupção, o que é um completo absurdo”, afirma a atriz, que tenta achar uma solução. “Particularmente, acredito que faltam leis de proteção, políticas culturais que protejam o desenvolvimento da cultura. O que temos é a Lei Rouanet que foi, pelo mau uso feito por um ou dois por pilantras da área, toda uma classe é demonizada, e isso tudo é articulado de forma política para desqualificar e desvalorizar a arte e a cultura no País. E acredito que só as leis podem colocar as coisas nos seus devidos lugares”, sugere.
Diante deste cenário de tensão, a atriz enxerga que o governo atual está tentando prejudicar a cena artística brasileira em geral. “O governo faz questão de aumentar a confusão para embaralhar o que o povo está tentando entender. Mas eu desafio qualquer cidadão a tentar sobreviver sem arte por uma semana: sem ouvir uma música, ver um filme, uma série, uma novela, sem ler um livro, sem uma festa popular. É impossível! A arte é libertadora, ela norteia, te oferece soluções, abre caminhos para o pensamento, para a alma. E um país que não tem um olhar para a cultura está condenado ao suicídio”, declara.
Atualmente, Drica pode ser vista na série Sob Pressão, da TV Globo, que exibe amanhã o seu último episódio da temporada. Na trama, ela interpreta a infectologista Vera. “Essa série ainda tem muito fôlego pela frente. Falar de mazelas sociais ligadas à saúde num País que não tem uma boa política pública, assim como na cultura, é um tema sem fim”, lamenta.
A série médica, que chegou a ser anunciada que terminaria agora em 2019 pela emissora, atendeu ao pedido do público e crítica e voltará em 2021. Além de elogiar os protagonistas Marjorie Estiano e Júlio Andrade, Drica analisou a atração. “Se eu tivesse que me operar com alguém hoje seria com a Marjorie Estiano. E [a série] é um ambiente muito bom de trabalhar, apesar de um conteúdo muito triste, mas é contundente e necessário nos dias de hoje”.
Para receber o troféu Calunga de Ouro no Cine PE 2019, Drica Moraes virá bem acompanhada. “Você receber uma homenagem do Cine PE aos 50 anos é bom demais. Parece um sonho! Vou com minha mãe e meu filho para honrar as gerações passadas e futuras com esse prêmio”, celebra.