Bad Boys Para Sempre chega amanhã as salas de cinema no Recife como o terceiro filme de uma franquia iniciada lá no final do século passado. O que é pouco lembrado é que o seu primeiro longa marca a estreia do hoje “memeficado” diretor norte-americano Michael Bay – conhecido pelas grandiosas explosões cinematográficas sem nenhum sentido e por dirigir todos os filmes da franquia Transformers.
A grande popularidade que os Bad Boys agrariaram, no entanto, está relacionada mais ao seus intérpretes, os astros Will Smith e Martin Lawrence. A narrativa funciona em torno da química entre os dois. O que passa pela comédia, pela ação e também pela representatividade de ambos comporem uma dupla de dois super policiais negros.
Michael Bay trabalhou a partir disso para executar todas suas pirotecnias, piadas de mau gosto e coreografias de filmes policiais. A presença dos astros é o que trouxe tudo para um contexto cultural maior – próximo ao hip hop, da comunidade afro-americana e de um humor que trafega dentro desse cotidiano.
O sucesso serviu como uma fórmula que rendeu, além de um segundo filme, inúmeras influências para outras obras que se aventuravam no gênero “dupla policial engraçada caça traficantes pela cidade”.
Um produto cultural que até hoje é adorado nos EUA; o novo longa da franquia lidera com folgas, segundo o Box Office Mojo, as bilheterias no país (na frente, por exemplo, de 1917, favorito a vencer o Oscar de Melhor Filme deste ano).
Apesar disso tudo, Bad Boys Para Sempre traz consigo uma mudança significativa na sequência. Para comandar essa nova versão os escolhidos foram a jovem dupla de cineastas belgas Adil El Arbi e Bilall Fallah.
O filme também marca a volta da dupla Marcus (Martin Lawrence) e Mike (Will Smith) à ativa depois de 17 anos. Ambos, naturalmente, mais perto do fim do que de um recomeço. A trama gira nesse entorno: em meio a dilemas entre se aposentarem ou continuarem como policiais, um super assassino mexicano ameaça a paz de ambos.
Tratando-se de cinema, a fórmula é mantida: comédia para maiores de 16 anos, momentos de ação com coreografias levemente interessantes e motivações dramáticas descartáveis. O que não signifique um produto final ruim – mas a linha tênue de qualidade é pequena.
De fato, Bad Boys Para Sempre faz jus a franquia nesse sentido, sem nunca precisar apelar para a nostalgia (o que é bastante louvável). O problema é que isso não indica outros predicados. Transportar estruturas de um cinema desenvolvido em um contexto específico dos anos 90 para a atualidade não me parece uma boa ideia.
A dupla de diretores até tenta projetar um cenário mais atual nos momentos de ação, no uso da tecnologia (dentro e fora do filme) e com personagens secundários. Mas a sombra de Bay – gostando ou não um cineasta bastante autoral – sempre paira na concepção geral de tudo.
Bad Boys Para Sempre termina soando, numa comparação dentro da sua desenvoltura cultural, como um disco dos anos 2000 do rapper 50 cent lançado agora. As sonoridades não serão necessariamente ruins; a nostalgia pode até confortar. Mas, no final, o tempo terá avançado, os processos e narrativas serão aprimorados, e o resultado final irá parecer ter sido feito por alguém que passou boa parte do século trancado dentro de um porão.