RIO DE JANEIRO - A série original da Netflix, O Mecanismo, estreia sua segunda temporada nesta sexta-feira (10). Para falar da nova leva de oito episódios, a obra que se baseia nos bastidores da polêmica Operação Lava Jato reuniu o diretor José Padilha e os principais nomes do elenco como Selton Mello, Caroline Abras, Emilio Orciollo Netto, Jonathan Haagensen e Enrique Diaz na manhã desta terça-feira (7), para um luxuoso evento de apresentação à imprensa no Copacabana Palace.
Falar da série e não falar da política atual foi quase impossível durante os 40 minutos da entrevista coletiva. O ator Enrique Diaz, que interpreta o doleiro Roberto Ibrahim, foi um dos que, antes de responder a primeira pergunta, fez questão de colocar seus posicionamentos políticos publicamente. “Abaixo o desmonte da educação pública, fora milicianos, fora ‘familícia’ e Lula Livre”, disse o artista. Em seguida, ele defendeu a trajetória de seu personagem, principalmente o lado familiar: “O Ibrahim já tinha esse lado familiar aflorado e agora (nesta nova temporada) está mais presente. Ele é um suposto cara normal e, ao mesmo tempo, um coringa. Ele sabe do sistema e não se apega a nenhum partido”.
Selton Mello, que dá vida ao (agora) ex-delegado da Polícia Federal Marco Ruffo, falou um pouco do declínio emocional do personagem: “Ele já começa quebrado na primeira temporada, tentando lutar contra um negócio gigante. E a barra acaba pesando mais para o lado dele e de sua família. Mas a segunda temporada está mais ampla, com novas discussões”.
Nesta nova temporada, composta por oito episódios, um dos destaques é Caroline Abras, que vê a sua, então aprendiz, Verena tomar mais iniciativa. “A Verena nesta temporada está muito mais agressiva, obstinada. Ela sai deste lugar de fragilidade de uma doença e coloca um propósito. Ela sai do lugar de aprendiz e tem mais autonomia em suas escolhas”. A atriz ainda destacou a importância de ter um personagem feminino no lugar de frente na série: “Essas alegorias do poder feminino são aspectos muito interessantes que a Netflix vem trazendo em seus produtos. E eu gosto muito de olhar para O Mecanismo nesse viés: A Verena se destaca sem se masculinizar e sem se sexualizar”.
O policial Vander, interpretado por Jonathan Haagensen, vê o seu personagem neste novo ciclo perdendo a inocência e entendo mais como as coisas funcionam. “Ele começa muito ingênuo nessa investigação, com sede de justiça. Mas quando se depara com todo esse sistema perverso e genocida, ele percebe que realmente precisa se posicionar, passando a viver o dilema entre a ética e a moralidade de um sistema que não favorece nem quem está disposto a fazer o certo”, afirmou.
Durante quase seis meses de gravação da segunda temporada de O Mecanismo, quem se dedicou muito foi Emílio Orciollo Netto, que deu vida ao controverso Ricardo Brecht. Ele contou que chegou a pesar 65 kg durante as filmagens e chegou diversas vezes ao set “com fome”, despertando risos na coletiva. Mas para ele, o esforço valeu a pena. “Esse é um personagem que acho que qualquer ator gostaria de fazer. Ele tem muitas possibilidades e faz tudo para conseguir o que quer. Ele transita por uma conduta ética bastante perigosa. E como ator, o que a gente gosta é desses desafios”, disse o artista, que completa este ano 30 anos de profissão.
O diretor José Padilha - criador dos sucessos Tropa de Elite e a série Narcos, também da Netflix - não se esquivou das críticas que O Mecanismo sofreu na primeira temporada, que estreou em março do ano passado, de que a série privilegiava apenas um lado da história. “Sempre falei que O Mecanismo eram todos. Sempre falei que O Mecanismo não tinha ideologia, que o PSDB era o mecanismo, o PMDB é o patriarca do mecanismo, o PT entrou no mecanismo... Acho que a história da Lava Jato comprova essa tese: que o mecanismo são todos eles”.
Uma das novidades nesta nova temporada é a sua nova abertura, usando a música Reunião de Bacana, dos Originais do Samba, que traz o famoso refrão “Se gritar, pega ladrão/ Não fica um, meu irmão”, junto a imagens de vários políticos com seus olhos pixelizados. “Essa era a abertura que eu queria ter colocado desde a primeira temporada. Ela estava pronta e não foi ao ar por questões de dúvidas. Quando a primeira temporada não sofreu ‘um milhão de processos’, tivemos menos preocupação do ponto de vista jurídico, e colocamos esta abertura tão planejada”, explicou.
Na coletiva, Padilha seguiu sustentando a sua tese de que a série bate em todas as feridas da corrupção do País. “Quando eu digo que O Mecanismo é apartidário, essa opinião não mudou. E as evidências (reais) seguem claras de que isso é verdade”, concluiu.
*O repórter viajou a convite da Netflix Brasil