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Maria Lectícia eleita para a academia

Herdeira intelectual de Gilberto Freyre, escritora vai ocupar o mesmo lugar em que sentava o mestre
Bruno Albertim
Publicado em 28/08/2013 às 8:40


    A Academia Pernambucana de Letras está mais temperada. A pesquisadora e escritora Maria Lecticia Monteiro Cavalcanti, especialista entusiasmada e militante em gastronomia, aguarda, agora, a data oficial para tomar posse da cadeira de número 23 – a mesma, coincidentemente, ocupada por Gilberto Freyre, o primeiro grande intelectual brasileiro a tratar literária e sociologicamente a importância da cozinha no Brasil.
    Lecticia foi eleita imortal na última terça-feira com 37 dos 38 votos possíveis. “Fiquei muito feliz com a eleição. Não apenas porque estar na Academia Pernambucana de Letras é um privilégio para poucos. Mas porque esse é o reconhecimento de um trabalho feito há anos. E também, claro, porque os acadêmicos reconhecem a importância de gastronomia, que não deixa de ser uma linguagem”, diz a escritora.
    O último livro publicado por Maria Lecticia é um fluente e caudaloso ensaio sobre a importância da gastronomia na vida e na obra de Gilberto Freyre, numa edição fluida, mas entrecortada por verbetes e índices remissivos que facilitam a consulta de pesquisadores.
    Fruto de cinco anos de pesquisas, releituras e ilações, Gilberto Freyre - As aventuras do paladar (edição da Fundação Gilberto Freyre), reúne análises e nada menos que 1.300 referências de Freyre à alimentação em seus livros, apresentadas de uma maneira clara, didática, enciclopédica.
    Maria Lecticia já assume a cadeira 23 com um produto intelectual para a APL. Simbolista e curiosa com a cadeira que ocupará, fez uma pesquisa sobre todos os intelectuais que nela sentaram oficialmente. “Vou dar de presente essa pesquisa para a APL”, diz ela. “Eu não poderia tomar posse sem saber exatamente quem foram as pessoas que a ocuparam antes.” Além de Freyre, a 23 já pertenceu a nomes como Evaldo Coutinho e Gilberto Osório – “que era, além de intelectual, um grande gourmet”.
    A nova acadêmica se sente animada a investir na produção de livros para além dos assuntos relacionados a tudo que a mesa pode evocar. “Mas sempre com pesquisa, meu princípio de trabalho é sempre a pesquisa”, rubrica.
A autora está com outro grande volume no prelo. Esses pratos maravilhosos e seus nomes esquisitos já teve os originais entregues à editora Gilberto Freyre. No livro, ainda sem previsão de lançamento, ela explica a origem de 72 pratos clássicos. Os chefs Duca Lapenda e Lícia Maranhão ilustram com receitas os verbetes da obra.
O livro não teve um tempo certo de confecção. Além de novos temas, a escritora compilou artigos ao longo da carreira sobre a origem de receitas emblemáticas. “Há pratos que nós incorporamos como nossos que são de origem distante. Pratos sobre os quais a gente não sabe direito quem são as pessoas que homenageiam”, diz.
Um exemplo curioso entre os pesquisados, lembra Lecticia, é o do crepe Suzette. “O príncipe Eduardo, de Gales, filho da Rainha Vitória, foi a um restaurante e, então, pediu um crepe. O garçom, por acaso, derrubou o conhaque e, então, flambou o crepe. Como forma de se desculpar, disse que batizaria a receita com o nome do príncipe. Mas ele pediu que sua acompanhante, Suzette, fosse homenageada”.
A autora, agora, reúne também fôlego para uma grande obra sobre a história do açúcar. “Achei que o livro sobre Freyre seria bem mais rápido. Mas a pesquisa cresceu”, diz ela, consciente de que esse livro vai consumir alguns bons anos. Inclusive com pesquisas internacionais. “Já estive na Ilha da Madeira, na Torre do Tombo de Lisboa. Mas tenho prazo para concluir”, diz Maria Lecticia, confirmando a meticulosidade da pesquisa como uma de suas principais características.

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