Em 1967, o escritor e crítico de arte José Roberto Teixeira Leite publicou o livro A pintura no Brasil Holandês. Quase 50 anos mais experiente na pesquisa sobre a história e a arte do período, o autor carioca lança neste domingo (23/11), no Instituto Ricardo Brennand (IRB) – uma das maiores coleções particulares do mundo no tema –, um livro diretamente inspirado nesse impulso. Arte e arquitetura no Brasil Holandês (Cepe Editora, 358 páginas, R$ 60) é apresentado ao público no encerramento do Simpósio Internacional Coleções e Colecionismo, a partir das 18h30.
Autor de títulos como Pintores espanhóis no Brasil, Pintores negros do oitocentos e A China no Brasil, José Roberto foi acumulando, com os anos de pesquisa sobre o Brasil Holandês, material não só sobre os quadros dos pintores que vieram com Maurício de Nassau, mas sobre artes menos lembradas, como a literatura, a música, a escultura e o teatro. “A obra dá uma visão muito completa do tema, desde a primeira investida dos holandeses aqui, em 1624, até eles serem expulsos”, comenta.
“Todo esse surto cultural que aconteceu no Nordeste não foi por conta da Companhia das Índias Ocidentais, mas pela vontade de Nassau. A Companhia não gostava desse jeito dele. Nassau estava sempre cercado de poetas e artistas – Frans Post e Eckhout eram pagos do próprio bolso dele”, destaca o crítico de arte.
Ricamente ilustrada, a obra passa por manifestações menos lembradas, como a cartografia, o mobiliário, a ourivesaria e a heráldica. “A música e o teatro são partes curiosas, pois são pouco faladas”, aponta. Entre o registro e a criação, a arte holandesa teve momentos diversos. “Sempre acrescentavam algo, naturalmente. Frans Post, no começo, fazia mais retratos fiéis das paisagens. Um dos quadros dele tem escrito no verso: ‘era assim que os portugueses montavam’. Quando ele voltou para a Europa, começou a esquecer e precisou elaborar elementos. Existe na sua obra uma casa pernambucana com chaminé, por exemplo”, descreve.
Segundo José Roberto, a arquitetura holandesa é muitas vezes confundida com a portuguesa por leigos. “No século 15, em Portugal, já existiam sobrados como esses. Há uma pintura do Pernambuco Holandês que mostra que eles trouxeram até aquelas casas com tetos para evitar a neve. As construções holandesas e portuguesas existiram lado a lado. Em muitos casos, os invasores só modificaram casas já erguidas”, afirma o autor.
SEQUESTRO
Na segunda (24/11), a historiadora e escritora Ana Maria César também apresenta o volume O último porto de Henrique Galvão (Cepe Editora, 336 páginas, R$ 45), sobre um fato fundamental do século 20: o sequestro do navio português Santa Maria, em protesto contra a ditadura de Salazar, em 1961. O volume é lançado na Academia Pernambucana de Letras, às 18h30.
Autora de livros como A bala e a mitra e A faculdade sitiada, ela começou a investigar o caso após concluir o seu último livro. A partir de uma sugestão do professor Vamireh Chacon, foi atrás do caso envolvendo Henrique Galvão. Em quatro anos de pesquisa, resgatou não a trama, mas também a repercussão do sequestro no Recife e no mundo.
Henrique veio parar no Porto do Recife para negociar o asilo político com a diplomacia brasileira. Enquanto o navio ficava em águas internacionais, repórteres pernambucanos e enviados de outros países tentavam conseguir chegar até ele – um francês até saltou de paraquedas para cair na embarcação, mas falhou.
Na sua pesquisa, Ana Maria usou o registro da imprensa da época, incluindo o Jornal do Commercio. “Foi nesse período que a Rádio Jornal fez a primeira transmissão de radiofoto do Nordeste por meio da sua antena”, destaca. “Os jornais também relatam as aventuras que viviam para tentar conseguir uma entrevista com Henrique, que seria o maior furo da época”. A importância histórica do evento para ela é ampla e vai além da denúncia da ditadura portuguesa. “A cidade ficou em polvorosa. Por alguns dias, o Recife foi o centro do mundo”, define.