Aos quase 60 anos de idade, João Luiz Woerdenbag Filho reforça na voz a alcunha de adolescente: seu canto falado está cada vez mais uivado, espesso. Mas a moldura vocal adequada ao apelido não serve, sabemos, apenas à música. Na quarta-feira (22), no Recife, no show sem banda, apenas voz e violão, Lobão fez o que mais tem feito e parece gostar ultimamente: atacar seus inimigos preferenciais. No palco, fez campanha aberta à destituição de Dilma Rousseff, dirigindo à presidente da República xingamentos dignos de colegiais numa pelada de futebol.
“Se estou incomodando, f...-se... Eu sempre falei. Mandei Collor tomar no c... Mandei Sarney tomar no c... Não mandei a Dilma, mas não posso respeitar quem não se dá ao respeito”, disse Lobão, arrancando alguns aplausos do público suficiente para lotar pouco mais da metade do Teatro Rio-Mar, no Pina, antes de convocar a audiência para um protesto nacional contra a presidente e o governo do PT em agosto. “Vamos tirar essa corja do poder!”.
De blazer bem cortado em contraste com o cabelo e barca desgrenhados, o Lobão dos dias de hoje é uma espécie de Juca Chaves de all-star nos pés e guitarras na mão. Parodiou várias de suas canções para detratar seus alvos. Menestrel, contou a história - ou estórias em torno de - cada uma das canções interpretadas com o vigor de um adolescente. Trocou o refrão de Rádio Blá para descascar, de novo, Dilma: “...Cercada de idiotas, de ministros inúteis...”
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Antes, lembrou que, ao lado de nomes da vida midiática e cultural brasileira como os jornalistas Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo, foi incluído numa lista negra de artistas e intelectuais que deveriam ser boicotados o máximo possível pelo Governo Federal. “Esse governo é cheio de paumolência, e eu sempre vou ser contra a paumolescência”, decretou. O público ria, discretamente, a cada fala.
Musicalmente, o show convenceu a plateia meio tímida. A voz espessa ocupou bem o teatro parcialmente vazio. Entre goles de vinho branco e alternando quatro instrumentos de corda, Lobão contou histórias preciosas dos bastidores do pop nos anos 1980, cena da qual é verbete obrigatório. Como, por exemplo, se tornou baterista acidental da banda Gang 90, de Júlio Barroso, recrutado para tocar 23 músicas num show no Morro da Urca, no Rio, sem conhecer nenhuma delas, ao lado de 350 ursinhos de pelúcia tocando tambores movidos à pilha. Além de novas, não faltaram mela-cuecas bem estruturados melódica e poeticamente como “Por tudo o que for”. Lobão uiva - e ainda canta também.