Morre lendário músico de rock David Bowie

Morte de Bowie coincidiu com o lançamento de seu último disco, 'Blackstar', um álbum com ares de jazz que saiu à venda na sexta-feira passada, dia de seu 69º aniversário
Da AFP
Publicado em 11/01/2016 às 6:50
Morte de Bowie coincidiu com o lançamento de seu último disco, 'Blackstar', um álbum com ares de jazz que saiu à venda na sexta-feira passada, dia de seu 69º aniversário Foto: Foto: Katja Lenz / DPA / AFP


A lenda britânica do rock David Bowie morreu de câncer aos 69 anos, após uma carreira excepcional e dois dias depois do lançamento de seu 25º álbum, uma notícia recebida com grande surpresa e dor no mundo da música.

"David Bowie morreu em paz hoje cercado de sua família ao término de uma valente batalha de 18 meses contra o câncer", indicou uma mensagem datada no domingo e divulgada nesta segunda-feira em contas do Twitter e Facebook.

January 10 2016 - David Bowie died peacefully today surrounded by his family after a courageous 18 month battle with...Publicado por David Bowie em Domingo, 10 de janeiro de 2016

"Muitos de vocês compartilharão esta perda. Pedimos que respeitem a privacidade da família durante o período de luto", acrescentou o comunicado.

"Lamento e fico triste em dizer que é verdade. Estarei desconectado por um tempo. Amo vocês", confirmou no Twitter seu filho Duncan Jones.

A morte de Bowie coincidiu com o lançamento de seu último disco, "Blackstar", um álbum com ares de jazz que saiu à venda na sexta-feira passada, dia de seu 69º aniversário.

Seu filho Duncan Jones confirmou a notícia no Twitter e publicou uma foto em preto e branco na qual aparece quando era bebê sobre os ombros do pai.

O anúncio surpreendeu o mundo inteiro, já que Bowie conseguiu não apenas evitar a divulgação de sua doença, mas também lançou na última sexta-feira, dia de seu 69ª aniversário, seu último álbum, "Blackstar".

Neste trabalho, o artista camaleônico, que vendeu 140 milhões de álbuns, segundo estimativas, demonstrou que seguia disposto a surpreender, introduzindo nele ares de jazz.

Não se trata de um álbum testamento, mas de "um álbum totalmente voltado para o futuro, de alguém que se tornou o mestre de seu destino, ao mesmo tempo experimental e pop, longe do repouso do guerreiro, um álbum de risco... O mais audacioso em quase trinta anos", declarou à AFP Jean-Daniel Beauvallet, redator-chefe da revista Les Inrockuptibles, sediada em Brighton.

 

Influência mundial

Sua morte gerou uma chuva de reações em todo o mundo e em apenas quatro horas seu nome gerou mais de três milhões de tuítes.

"Adeus David Bowie. Agora está entre os #Heroes. Obrigado por ter ajudado a derrubar o muro" de Berlim, escreveu o ministério alemão das Relações Exteriores em sua conta no Twitter.

A música "Heroes", um hino da Guerra Fria, foi escrita por Bowie quando o artista vivia em Berlim no fim dos anos 1970, para fugir da fama e superar a dependência química.

"Foi uma honra e um privilégio difundir sua música para o mundo inteiro", reagiu sua casa fonográfica, a Columbia.

Os Rolling Stones o classificaram de "artista extraordinário e único" e Iggy Pop, que colaborou com Bowie durante seu período em Berlim, afirmou que a amizade com o artista foi "a luz" de sua vida. "Nunca conheci ninguém tão brilhante. Era o melhor", disse o cantor britânico.

Maddona disse estar devastada, e o rapper Kanye West afirmou que o artista foi uma de suas "principais fontes de inspiração". 

O estilista britânico Paul Smith, de 69 anos, prestou homenagem ao seu amigo ao apresentar nesta segunda-feira sua coleção masculina outono-inverno 2016 em Londres. Trabalharam juntos em uma camiseta que leva estampada a estrela preta do álbum "Blackstar".

"Era uma estrela há décadas, seu talento era evidente, muito impressionante", disse.

Em um artigo em seu jornal, o L'Osservatore Romano, o Vaticano homenageou o músico por seu "rigor artístico" e suas composições que "nunca aborrecem".

"Cruzou cinco décadas de música rock com rigor artístico, o que pode parecer uma contradição pela imagem ambígua que utilizava, especialmente no início de sua carreira, para chamar atenção dos meios de comunicação", escreveu o jornal do papa.

"Seria possível dizer que depois de uma vida de aparentes excessos, o legado de Bowie é este tipo de sobriedade pessoal que tinha", destacou o jornal.

 

O homem das mil faces

David Robert Jones nasceu em 8 de janeiro de 1947 no seio de uma família modesta de Brixton, um bairro popular do sul de Londres, onde flores e velas foram colocadas durante todo o dia aos pés de uma grande pintura de seu rosto. 

Flores e lágrimas também se seguiram ao anúncio de sua morte em frente à residência que o astro mantinha na ilha de Manhattan, em Nova York, e em sua antiga moradia em Berlim, na Hauptstrasse 155.

Antes de se tornar um astro, ele abandonou a escola na adolescência e saltou à fama em 1969 com "Space Oddity", uma mítica balada sobre a história de Major Tom, um astronauta que se perde no espaço.

A partir de então, multiplicou seus álbuns, mudou sua música, encarnou diferentes personagens, convertendo-se no homem das mil faces, graças a sua formação como mímico, seu gosto pela moda e seu amor pelo teatro japonês kabuki. Também participou de muitos filmes.

Não deixou de lançar discos e fazer turnês até o início dos anos 2000, mas um problema cardíaco sofrido no palco durante um festival alemão em junho de 2004 pôs fim a esta época tão frutífera.

Forçado a um longo repouso por quase uma década, suas aparições foram escassas, mas os últimos anos voltaram a ser prolíficos.

Há três anos, o músico britânico escolheu o dia de seu aniversário para romper uma seca musical com a música "Where Are We Now?". Esta canção repleta de referências à sua vida em Berlim avivou uma chama que alguns consideravam vacilante.

Dois meses mais tarde, um novo álbum com tons de rock, "The Next Day", confirmou o retorno em plena forma do influente artista.

Entre seus últimos projetos, destaca-se a música que acompanha os créditos da série de televisão franco-britânica "The Last Panthers", a comédia musical "Lazarus" e algumas colaborações, como no último álbum do The Arcade Fire.

Em "Blackstar", representado por uma misteriosa estrela preta de cinco pontas, a bateria e o saxofone compartilham o protagonismo com a inconfundível voz de Bowie.

O artista se diverte esticando e desestruturando suas músicas, que superam amplamente o formato padrão de três ou quatro minutos. Também há ressonâncias com seus trabalhos anteriores, como o clássico "Low" (1977) ou "Black Tie White Noise" (1993) que relançou Bowie após os difíceis anos 1980.

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