Em Petrolina, Banda Philarmônica de mais de um século se renova

Trajetória se renova com o projeto Jovem 21 e com a abertura de 70 vagas para técnicos e instrumentistas
Christyanne Caldas e José Lucas
Publicado em 16/01/2016 às 14:00
Foto: NE10


PETROLINA – Terra da fruticultura irrigada e do artesanato ribeirinho, Petrolina também é celeiro da diversidade musical que, entre outros nomes, vai de Geraldo Azevedo ao Samba de Véio, da Ilha do Massangano, que impressionou o escritor Ariano Suassuna. Nesse território, a música instrumental também ganha espaço pelas mãos dos integrantes da tradicional Banda Philarmônica 21 de Setembro, que atravessa mais de um século de história sem perder sua originalidade. Com a missão de revitalizar sua trajetória criou no ano passado, o programa de incentivo educacional Jovem 21 e abriu seleção com mais de 70 vagas entre instrumentistas e técnicos para compor sua estrutura musical e logística.

As bolsas variam de R$ 200 a R$ 1,2 mil em vários níveis de escolaridade e técnico-musical. Os profissionais poderão desenvolver atividades entre a Philarmônica e a Orquestra Sinfônica do Sertão, do IF Sertão Campus Petrolina. Após o processo de seleção que se encerrou no último dia 15, as atividades terão início em 25 de janeiro. Já a temporada de concertos abertos será retomada após o Carnaval. Com 105 anos de história e várias gerações de músicos, a ideia é dar sequência ao projeto da Philarmônica Jovem, que tem cerca de 30 integrantes que, em sua maioria, surgiram das fanfarras escolares. 

O passado de apresentações dispersas da Philarmônica ficou para trás. Até o fim do ano passado, junto com os jovens foram 60 apresentações em um semestre. Com o mote de que música é para se compartilhar em espaços públicos, os instrumentistas foram ao encontro do público em praças e escolas da periferia, durante a semana, e aos domingos no amplo Parque Josepha Coelho. 

A versatilidade do repertório e o perfil dos músicos de várias idades acabam mesclando a experiência de uns com as novas ideias dos outros. Há 35 anos integrando o elenco da tradicional Philarmônica, Francisco Dias, 72, não esconde a felicidade ao falar sobre os colegas. “Somos mais que uma família de carinho, respeito e troca de experiências”, diz. 

O mais novo dos integrantes da orquestra é Marcos Vinícius Mangabeira, jovem de 14 anos que esbanja orgulho quando está se apresentando. Ele não pensa em outra coisa a não ser se profissionalizar em música. “O importante é fazer parte da banda Philarmônica máster. Música é o que gosto de fazer. Com perseverança, treino todo dia porque essa deve ser meta para quem quer chegar a algum lugar”, ensina.

Para Maikon Quirino de Souza, 23, também novo integrante da máster, o projeto para iniciantes é referência para os mais novos. “A máster requer maior experiência, o repertório é exigente”, comenta. Um dos precursores responsáveis pela revitalização e modernização da banda é o professor Ozenir Luciano, que teve a ideia de trazer a banda para as ruas. “Música precisa de público, se o público não conhecer, não tem sentido a banda existir”, ressalta.

otos: Projeto Cobaias/Cortesia
Músicos e técnicos recebem bolsas de R$ 200 a R$ 1,2 mil na Philarmônica de Petrolina - otos: Projeto Cobaias/Cortesia
O mais novo integrante da banda é Marcos Vinícius Mangabeira, 14, que pretende se profissionalizar -
Maikon Quirino de Souza, 23, também integrante da máster, diz que projeto é referência -
Francisco Dias, 72: "Isto é mais que uma família" -
O mastro Hélio Lima faz parte da 2ª turma do curso de licenciatura do IF -Sertão -

CURSO

O panorama da música na região também invade a sala de aula com o propósito de profissionalizar os que querem fazer carreira. A chegada do curso de Licenciatura em Música do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – Sertão Pernambucano (IF Sertão – PE), vai além da teoria. Já são duas turmas funcionando, sendo uma pela manhã e outra à noite. Uma terceira será formada neste primeiro semestre.

Desde o surgimento, o curso foi aprimorado. Para entrar, o aluno precisa fazer uma prova específica de leitura. “Por enquanto não temos alunos desistentes, apesar dos desafios, entre eles, a dificuldade de se ler partitura”, explica o coordenador do curso, Alan Barbosa, apontando que o curso de Licenciatura em Música como qualquer outro de arte não se ensina do zero.

O maestro da Philarmônica Jovem, Hélio Lima, faz parte da 2ª turma do curso de licenciatura e diz que o projeto do IF- Sertão capacita para o mercado. “O embasamento teórico é importante, mas não é tudo, a vivência musical conta muito”, afirma. Na região do São Francisco só o IF-Sertão tem o curso de Música.

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