Rec-Beat foi impecável do início ao fim

Embora com verba reduzida, evento é uma ilha de resistência e frescor musical no Carnaval, às margens do Capibaribe
Do JC Online
Publicado em 11/02/2016 às 9:22
Embora com verba reduzida, evento é uma ilha de resistência e frescor musical no Carnaval, às margens do Capibaribe Foto: Foto: Ariel Martini / Divulgação


Na última terça-feira, a 21ª edição do Rec-Beat chegou ao seu fim. Os cortes de 50% da verba da prefeitura não impediram o festival de, mais uma vez, entregar uma programação recheada com bons e surpreendentes shows de artistas locais, nacionais e gringos. O evento, produzido heroicamente por Gutie, é uma ilha de resistência e frescor musical no Carnaval, às margens do Rio Capibaribe, entre o engessamento da programação oficial do Marco Zero e a elitização do camarote Parador, no Cais do Porto.

Principal atração da noite, Johnny Hooker subiu ao palco ovacionado por uma das maiores plateias que o Rec-Beat já teve. As músicas de Vou Fazer Uma Macumba Pra te Amarrar, Maldito!, seu disco-hit, foram a base do show. O repertório encaixou-se perfeitamente no clima carnavalesco. Se no álbum Hooker constrói a narrativa de um ciclo amoroso (da dor da separação à volta por cima), a sua performance é a comunhão de todos esses sentimentos repartidos com o público. Com as mãos ao céu, todos cantavam unidos os versos de Alma Sebosa: “Acha que a sua indiferença vai acabar comigo? Eu sobrevivo! Eu Sobrevivo!”. O trocadilho sacana de Chega de Lágrimas também tinha uma ressonância particular nos corpos presentes. No encerramento do Carnaval, Hooker cantava à vida e liberdade carnal: “Chega de lágrimas/ Eu vou meter/ O pé na estrada, me livrar de você”.

O show foi repleto de homenagens: o clássico Garçom, para o rei do brega Reginaldo Rossi e Back To Black para relembrar a diva Amy Winehouse. David Bowie, ídolo de Johnny, apareceu nas projeções de vídeo durante Segunda Chance. Boato ("Vejo as meninas/ Tudo me fascina/ Corpos, Carnavais”) foi dedicada “A Selma do Coco, Lia de Itamaracá, Isaar, Karina Buhr e a todas as mulheres que fazem a música de Pernambuco”. Com o cantor paulista Liniker, fez um dueto em Você Ainda Pensa em Mim?, um dos melhores momentos da apresentação. 

Agora Hooker está encerrando o ciclo de Vou Fazer Uma Macumba... Na próxima semana, anuncia a data e local do show de gravação do DVD do álbum -- mas já antecipa que será no Recife no final de abril. Em setembro ele vai a São Paulo para começar a gravação de seu novo disco, ainda sem título definido. "Infelizmente ou felizmente, depois da turnê esse personagem que eu costumo chamar de Deus do Desejo vai embora. O próximo disco será como se o Young Americans, de David Bowie, e Cinema Transcendental, de Caetano Veloso, tivessem um filho em Recife. Ele é mais romântico, tem mais calor, pra dançar juntinho, menos sofrimento. É mais solar", define o músico.

#OmelhorCarnaval Liniker canta "Você ainda pensa em mim?" com Johnny Hooker no #recbeat

Um vídeo publicado por Jornal do Commercio PE (@jc_pe) em Fev 9, 2016 às 8:29 PST

Antes de tudo, o rapper paulista Sombra, que integra também o seminal grupo SNJ, foi o responsável por abrir a programação da noite. Seu repertório foi focado no álbum Fantástico Mundo Popular, incluindo o single Homem Sem Face e Rap do Brasil. Ponto alto foi a versão de Cocaína, de Sabotage, clássico do rap nacional gravado com participação do próprio Sombra.

Depois foi a vez do caruaruense Almério, com as canções de seu primeiro e auto-intitulado álbum, como A Busca. Ainda teve a participação especial do cantor Zé Ricardo, com quem interpretou Dançando Com a Vida – faixa que ficou conhecida na voz de Sandra de Sá e Gabriel, o Pensador.

Almério é uma das expectativas para 2016. Patrocinado pelo prestigioso edital Natura Musical, ele lançará Desempena, seu segundo álbum. Previsto para março, o disco terá a sonoridade das bandas de pífano e o violão de Juliano Holanda, que também assina a produção. “Eu quero levar o minimalismo de Juliano. Meu primeiro disco tem muita coisa e esse eu quero menos”, comenta o cantor.

Na sequência, Liniker mostrou o swing da música negra de seu EP Cru, que precede o álbum Remonta, outro trabalho muito aguardado para 2016. A energia foi especial quando cantou o hit Zero. A colombiana Maite Hontelé, pela segunda vez no Rec-Beat, animou o Cais com os climas latinos da cumbia, salsa, rumba e bolero

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