Hellcifest conta com a força viking do Amon Amarth

Após uma estreia bem sucedida no ano passado, o festival Hellcifest chega à sua segunda edição neste domingo, com shows da sueca Amon Amarth e do norueguês Abbath, a partir das 17h, no Clube Português.

Formado em 1992, a base musical do Amon Amarth é o death metal melódico, mas a banda é muito enquadrada em uma vertente mais específica: o Viking Metal. O motivo é sua temática pagã, mitologia nórdica e vikings. O próprio nome da banda veio do universo de J.R.R. Tolkien e O Senhor dos Aneis. Uma das principais músicas de seu repertório, Twilight of The Thunder God é sobre o Ragnarök – uma batalha final entre gigantes e deuses (incluindo Thor e Odin) que é seguida por várias catástrofes naturais e a submersão do mundo pela água, após a qual o mundo renascerá e a “Idade do Homem” surgirá.

Pela primeira vez no Nordeste, o Amon Amarth apresenta o álbum Jomsviking, lançado em março do ano passado. É o primeiro álbum conceitual da banda. “É uma história bastante simples. Um jovem está apaixonado por uma garota, mas infelizmente ela está casada. Ele acidentalmente mata um homem e quando isso acontece ele tem que fugir (...) mas ele jura vingança e jura conquistá-la. Ele não consegue deixar o passado ir. Ele sente que ele foi injustiçado e sua vida foi destruída”, explica o vocalista Johan Hegg.

Apesar do som mais melódico em relação aos trabalhos anteriores, a banda não amacia seu peso por completo. First Kill, por exemplo, é uma representação superviolenta do assassinato a que Hegg se refere.

UM ÍCONE DO BLACK METAL

O outro grande nome da noite é Abbath, que faz sua primeira passagem no Brasil. Apesar de estar fazendo os shows de abertura da turnê do Amon Amarth, a banda é liderada pelo vocalista Abbath Doom Occulta, um ícone do metal extremo.

A Noruega é basicamente a capital do black metal, de onde surgiram Mayhem, Burzum, Dimmu Borgir, Darkthrone, Gorgoroth, Satyricon e mais uma dezena de nomes seminais para o estilo. A cena sustentava uma ideologia radicalmente anticristã, apresentando-se como adoradores do Diabo e misantropos, flertando com o totalitarismo – chegaram a atacar a Igreja de Satã por a considerarem uma inversão do cristianismo. Traziam também um novo som, mais obscuro e tenebroso, complementado pelos “corpse paints”.

O movimento atraiu atenção da mídia após uma série de incidentes. O primeiro foi o suicídio de Dead, vocalista do Mayhem, em abril de 1991. O caso foi explorado pelo guitarrista Euronymous para difundir a imagem sombria do black metal. Surgiram boatos de Euronymous de que ele teria comido pedaços do cérebro de Dead e feito um colar com fragmentos do seu crânio. A banda negou na época, mas depois de alguns anos confirmou o colar e usou uma imagem do corpo (feita por Euronymous, que encontrou o corpo) na capa de um bootleg. Morgan Håkansson, integrante da banda Marduk, em 2012 confirmou possuir parte do crânio de Dead, além de fragmentos da bala usada no suicídio e um pedaço da massa encefálica.

Um ano após o suicídio de Dead, membros da cena iniciaram uma onda de incêndio a igrejas cristãs, liderada por Euronymous e Varg Vikernes, do Burzum. Porém, em 1993, após uma discussão, Varg assassinou Euronymous e ficou preso por 13 anos.
Abbath era parte de toda esta cena. No fim dos anos 1980, tocou com Varg na banda Old Funeral. Sua visão daquela época, porém, é mais sóbria. “O que aconteceu foi muito, muito trágico. Ainda fico triste por tudo aquilo”, contou em 2010, numa das raras entrevistas que falou sobre aqueles tempos.

Abbath consagrou-se como frontman do Immortal, por onde tocou por quase duas décadas e lançou 9 álbuns. Em 2015, contudo, a banda encerrou as atividades e montou seu novo projeto. Lançado no ano passado, o álbum Abbath mostra um novo som do norueguês. Desta vez é mais focado em melodias e riff mais puxados para o heavy metal clássico, deixando um pouco de lado a obscuridade black metal de outrora.

A abertura fica por conta da banda pernambucana Pandemmy, apresentando sua nova formação, e a paraibana Warcused lançando o novo álbum, Stages of Death. O Hellcifest é organizado pela Astronave, mesma produtora do Abril Pro Rock.