No final do ano passado, as filas davam voltas ao redor do Teatro de Santa Izabel. Muita gente voltou do teatro sem conseguir entrar. No palco, os irmãos Marinho lançavam Canção do Tempo, o primeiro DVD da Em Canto e Poesia. De uma plasticidade caleidoscópica, a banda agudiza a poética do Pajeú aos limites do pop. “Às vezes as pessoas perguntam ‘o que vocês tocam?’. Bem, nós tocamos o que toca a gente. Não importa a roupa, o que nos une e dá hegemonia é, acima de tudo, a poesia”, diz Antônio Marinho.
De letras nutridas pela generosa verborragia do Pajeú, a Em Canto e Poesia, nitidamente urbana em sua sonoridade polifônica, tem, naturalmente, a gênese no Pajeú. É prova e decorrência de como o contemporâneo não existiria sem uma tradição que a ancorasse. “O lugar de nascimento e crescimento é fundamental para qualquer artista. Nem que seja para negá-lo. No meu caso, o ambiente não é só cenário, é parte integrante do fazer e do ser. Louro faz parte na ausência de fronteira estética e na entrega do comando de tudo à emoção e à poesia”, sintetiza o herdeiro.
O neto de Louro do Pajeú conduz a banda ao lado dos irmãos, Greg e Miguel Marinho. Greg, um virtuoso violonista. Miguel, instrumentista que, no pandeiro, passeia por escalas nem sempre possíveis com o instrumento. “É o instrumento que eu escolhi para estudar”, simplifica o caçula.
Acostumados a cantar e tocar nos encontros familiares, os meninos tiveram a ideia de montar a banda em 2005, depois de um recital em casa. Deixavam, ali, de serem apenas músicos de esteio para a mãe, Bia Marinho.
No palco, Antônio Marinho atualiza a dicção do Pajeú que, entre si, os repentistas chamam de dicção poética (sim, musical e eticamente, há, claro, algo em comum com a extinta Cordel do Fogo Encantando: Lirinha, o antigo líder da banda, é contumaz interlocutor dos poetas da região). Canta como quem declama. Ou declama extraindo a musicalidade para além das rimas. “Acho que o que dá identidade ao grupo, mais do que um determinado padrão sonoro, é a pegada que damos a qualquer sonoridade. Mais do que o ritmo, é a poesia que perpassa tudo. Por isso, letras tão verborrágicas e a forte presença da declamação”, diz Marinho.
“Louro metaboliza nossa música quando não nos deixa esquecer quem somos. Por mais que nossa roupagem pop seja nova e distante da tradição de um cantador, seremos sempre netos de cantador experimentando e misturando repente com o resto do mundo. É nosso radar e localizador”, diz ele, prestes a seguir para uma série de apresentações da banda em São Paulo e para gravar o segundo disco.