Chaka Khan retorna com o ótimo disco 'Hello Happiness'

Após hiato de 12 anos, diva americana celebra bom momento na vida e carreira
Márcio Bastos
Publicado em 19/02/2019 às 15:35
Após hiato de 12 anos, diva americana celebra bom momento na vida e carreira Foto: Reprodução


Chaka Khan não lançava um disco de inéditas há 12 anos. Estava, como disse em várias entrevistas, desinteressada da indústria. Nem música ela ouvia mais, preferindo passar suas tardes assistindo a programas de televisão. Com uma carreira que já atravessa cinco décadas, ela certamente não precisava mais provar nada a ninguém até porque, apesar de estar longe dos holofotes, sua influência continua presente nos artistas contemporâneos, de artistas independentes a super-astros, como Beyoncé. Para a nossa sorte, ela decidiu quebrar o hiato e lançou Hello Happiness, disco que ressalta seu talento e a aproxima da nova geração sem comprometer sua integridade artística.

“A música me faz cantar/ Adeus, tristeza/ Olá, felicidade”, canta Chaka na faixa-título, que abre o álbum. A canção captura com brilhantismo a proposta do projeto: tem uma sonoridade atemporal, ao mesmo tempo em que evoca uma nostalgia da disco music do final dos anos 1970, gênero que teve em Chaka uma de suas principais representantes. Exaltando o caráter libertador do ritmo, ela faz uma celebração da vida – que, no seu caso, ganha contornos ainda mais emotivos devido à sua trajetória.

Nascida em uma área pobre, mas boêmia de Chicago, Yvette Marie Stevens se interessou por música muito nova. Sua mãe era uma católica praticante e o pai, um beatnik, sempre incentivando a filha a explorar o mundo. Ainda na pré-adolescência, Chaka começou a participar das marchas pelos direitos civis dos negros norte-americanos. Aos 14, ela passou a integrar o partido Panteras Negras – seu nome, Chaka Adunne Aduffe Hodarhi Karifi, foi dado por um conhecido de origem africana é baseado no idioma Yorubá. Sua função principal era vender o jornal do grupo, mas ela decidiu se desvincular quando lhe deram uma arma para proteção pessoal. Deixou o partido e começou a investir na carreira artística. Não demorou muito para explodir ao lado da banda Rufus, formada por músicos negros e brancos.

Aos 17, o grupo recebeu a proposta de um contrato, mas como ela era menor de idade, precisava de autorização da mãe, que negou. Ela, então, fingiu uma gravidez para se casar com seu então namorado e conseguir a emancipação. Pouco tempo depois, como lembra em entrevista recente ao The Guardian, ela estava à espera de seu primeiro filho. “Tudo aconteceu comigo assim: bam. E, sim, me deixou algumas cicatrizes, criou alguns hábitos ruins”, confessou.

Tanto com o Rufus quanto na carreira solo, Chaka consolidou-se como uma das maiores artistas do século 20, vendendo mais de 50 milhões de álbuns e, principalmente, ajudando a consolidar o funk e a disco music ao redor do mundo. Sua voz poderosa ajudou a popularizar hinos como I’m Every Woman, Tell Me Something Good e Ain’t Nobody. Visionária, foi uma das primeiras artistas a colocar um rapper em sua música I Feel For You (escrita por Prince), no caso Melle Mel, um dos pioneiros do gênero.

Chaka e Prince, inclusive, eram muito amigos e a morte dele por overdose de remédios, em 2016, fez com que ela decidisse entrar na reabilitação para tratar de seu vício em analgésicos – ela já havia lutado contra sua adição em cocaína, heroína e álcool.

“O médico me disse: ‘É o seguinte, há algumas dores com as quais você tem que viver, são parte da vida”, contou na entrevista ao Guardian.

LIBERTAÇÃO E EUFORIA

Essa aceitação dos altos e baixos da vida aparecem em Hello Happiness transformada em um autoconhecimento libertador. A Rainha do Funk, título mais do que merecido, leva sua voz às alturas em canções como Like a Lady, sobre o início de uma nova paixão, o crescimento de um sentimento que toma conta de todo o corpo e nos faz querer gritar aos quatro cantos nossa felicidade. Já em Don’t Cha Know ela reforça seu gosto pela experimentação, deixando os instrumentais liderarem a faixa.

Vale ressaltar as produções de Switch – conhecido como parte do grupo de produtores de música eletrônica Major Lazer – e Sarah Ruba, que capturam a essência de Chaka Khan, criando uma atmosfera coesa para que ela brilhe.

O disco é conciso, com apenas sete faixas e cada uma delas reforça traços do projeto artístico da artista. Too Hot, com uma pegada mais funkeada, celebra uma mulher empoderada, no controle de sua vida, mas também em busca de satisfação amorosa. Like Sugar é hipnótica, com seu uso de metais e um baixo marcante, assim como Isn’t That Enough.

Ela encerra o disco com Ladylike, uma versão de Like a Lady guiada por violão e percussão. Apesar da mesma letra, parece outra canção, o que só enfatiza a genialidade de Chaka Khan, uma intérprete capaz de imprimir dor e êxtase em suas canções como poucas.

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