O Janeiro de Grandes Espetáculos oferece a oportunidade, hoje, no Teatro de Santa Isabel, de conferir duas das mais prestigiadas vozes do novo cenário musical pernambucano. São artistas de estilos diferentes, e de público certo e sabido. Martins, recentemente, lotou o Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, no show de lançamento do seu disco de estreia solo, intitulado simplesmente Martins (distribuído pela Deck). Ambos começaram a carreira, mais ou menos, na mesma época. Martins, um pouco mais discreto, passou pelos grupo Sagarana, Forró na Caixa e Marsa.
Almério, pela voz potente, apresentações histriônicas, chamou para si a atenção de produtores e logo estaria com carreira consolidada no país. Em 2018, ganhou um Prêmio da Música Brasileira, na categoria Revelação. Em 2017, participou do Rock in Rio, no palco Sunset, com Johnny Hooker e Liniker, e venceu um edital do Natura Musical para gravação e circulação do segundo disco, Desempena. Os dois integram o coletivo Reverbo, que vem movimentando a música pernambucana com um trabalho em que a qualidade das canções é inquestionável. Aliás, qualidade é o que mais há entre os vários artistas que formam o coletivo.
Não por acaso, Juliano Holanda, espécie de mentor do Reverbo, participa do show Almério e Martins, com o também violonista Roger Victor, com direção artística de André Brasileiro, que aposta nas diferenças estéticas da dupla de cantores. Martins tem canto mais intimista. De sua música, comentou quando lançou o álbum de estreia (disponível também em edição física):
“São canções de amores, desamores, coisas da existência, crônicas do nosso cotidiano que qualquer um pode se identificar. Lanço Martins como quem declara amor ao pé do ouvido esperando apaziguar as ânsias da alma da nossa geração”. Almério, nascido em Altinho, crescido em Caruaru, onde começou a se profissionalizar, é de soltar a voz até aonde ela pode ir, de gestos histriônicos, e de se entregar à canção, como fez na parceria com a cantora baiana Mariene de Castro, com quem dividiu palcos com o repertório do disco Acaso Casa (com selo da Biscoito Fino).
A seleção das músicas distancia-se um pouco do que Almério e Martins mostram em suas apresentações individuais. Ambos comentaram o conceito que imprimiram ao show, com participação de Juliano Holanda, diretor musical do espetáculo, e que produziu discos para os dois cantores:
“A gente pensou em sair um pouco da nossa atmosfera, cantar compositores que nos influenciaram e que nos emocionam. Canto músicas de Martins com o que me identifico de Martins, a quem admiro demais. A gente tentou escolher canções que mais se harmonizassem umas com as outras. A beleza do show está exatamente nisso, somos cantores da mesma região, mas com vozes peculiares, isto no palco ficou muito bonito”, diz Almério. Enquanto Martins ressalta que o que os levou a cantar juntos foi exatamente para enfatizar as diferenças entre si.
“Embora Almério seja mais expansivo e eu mais intimista, a região das nossas vozes é a mesma. A ideia era juntar isto, já cantamos juntos no mesmo palco, mas nunca um show inteiro. Conheço Almério faz uns quatro anos, ele gravou músicas minhas num disco dele. Já era tempo, pra unir forças. Conheci Almério de um disco que Geraldo Maia me mostrou. E Juliano Holanda, nosso produtor, sabe equalizar nossas diferenças”. No repertório tem músicas deles, de Caetano Veloso, Alceu Valença, Lula Queiroga, Paulo Neto, Maurício Tapajós. Existe a possibilidade de continuarem com este show como um projeto paralelo: “A gente pensa nisto, mas vai depender do show do Santa Isabel. É possível que continuemos e o próximo show, se houver, será no Rio”, pondera Almério.