A exposição aberta ao público nesta quarta-feira (23/4), às 19h, no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam), é composta por obras nas quais transbordam as histórias de "grupos de pessoas cujas vidas são marcadas, no Brasil, por lacuna e ausência”. São "cães sem plumas", tomando como referência o poema no qual o recifense João Cabral de Melo Neto descreve a cidade e seus habitantes pelo eixo do Rio Capibaribe. As conexões foram estabelecidas pelo curador Moacir dos Anjos, que reuniu em Cães sem plumas 25 artistas brasileiros, sem a proposta de fazer uma "tradução" dos versos de João Cabral.
A seleção atravessa gerações e fronteiras, apresentando "esses 'cães sem plumas' como índices inequívocos de que, a despeito de ter mudado muito e beneficiado tanto os que antes pouco tinham, o Brasil permanece inaceitavelmente desigual e excludente", como escreve Moacir.
Em algumas obras, são mencionados fatos de maneira direta ou pessoas das quais conhecemos rosto e nome. Como na obra de Cildo Meireles (RJ), que indaga, mais uma vez numa cédula de dinheiro, "Onde está Amarildo?". A história do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, que morava na Rocinha, também inspira o trabalho de Matheus Rocha Pitta (MG/RJ), em foto dele colada a uma placa de cimento com vigas expostas.
Junto com as obras de Cildo e Matheus, fazem parte da exposição criações de Antonio Dias, Armando Queiróz, Berna Reale, Carlos Vergara, Eduardo Coutinho Gil Vicente, João Cabral de Melo Neto (em uma edição de Cão sem plumas), João Castilho, Jonathas de Andrade, Jorge de Lima, José Rufino, Lasar Segall, Marcos Chaves, Maria Thereza Alvez, Oswaldo Goeldi, Paula Trope, Paulo Bruscky, Paulo Nazareth, Regina Parra, Rosângela Rennó, Thiago Martins de Melo e Virginia de Medeiros.
A mostra coletiva é realizada pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e pelo Mamam. Ela integra o processo da pesquisa desenvolvida na Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundaj, que também tem como desdobramentos publicações e debates, que começam nesta quinta-feira (24/4). Confira a programação:
Quinta-feira (24/4), às 19h
Falar de quem não tem fala: Por quê e como falar do outro que não possui nada; a quem por vezes falta até mesmo a capacidade de enunciar sua condição de destituído
José Rufino (artista), Luiz Ruffato (escritor) e Moacir dos Anjos (curador e pesquisador da Fundaj)
Segunda-feira (5/5), às 19h
A pobreza que não interessa: A miséria do olhar em relação às populações mais precarizadas do Brasil; a opacidade social dos que não vivem como "cidadãos" em seu país
Fabiana Moraes (repórter especial deste JC e doutora em sociologia), Jessé de Souza (sociólogo e professor da UFJF) e Maria Eduarda Rocha (socióloga e professora da UFPE)
Quarta-feira (7/5), às 19h
O invisível representado: A representação do que não é comumente visto; a construção de um lugar de visibilidade em um tecido social que apaga e exclui.
Luiz Camillo Osório (professor de estética e curador do Mam RJ), Márcio Selligman-Silva (crítico literário e professor da Unicamp) e Virgínia de Medeiros (artista)
O texto completo está no Caderno C desta quarta-feira (23/4), no Jornal do Commercio.