Biografia de Ronnie Von bem ilustrada, mas sem novidades

Autores não se aprofundam na trajetória do ídolo do iê iê iê
JOSÉ TELES
Publicado em 20/09/2014 às 6:00


Curiosamente, depois da polêmica bizantina da biografia autorizada, ou não, a bibliografia sobre música popular brasileira ganhou diversas biografias, infelizmente a maioria autorizada e referendada pelo biografado. |Um bom exemplo é Ronnie Von - O príncipe que podia ser rei, de Antônio Guerreiro e Luiz César Pimentel (Editora Planeta), em que se perdeu uma grande oportunidade de contar não apenas uma história de um ídolo pop, como também analisar a engrenagem do show business, que torna um jovem de 20 anos, de um dia para o outro, num astro, mais um na engrenagem, feito um Ben Silver, personagem da peça Roda viva, de Chico Buarque. O livro é basicamente um resumo bem ilustrado da vida do cantor.

Ronaldo Lindeberg Von Schilgen Cintra Nogueira, o nome do cantor fluminense (de Niterói) aponta para sua origem de classe média alta, ao contrário da grande maioria dos seus contemporâneos do iê iê iê, o pop rock brasileiro dos anos 60. Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Renato Barros, e quase todos os demais, eram garotos pobres da Zona Norte carioca. E como cantam os Rolling Stones em Street fighting man, “O que pode fazer um garoto pobre, a não ser tocar numa banda de  rock and roll? Filho de diplomata, o destino de Ronaldo parecia ser um cargo de direção nas empresas da família, mas ele seguiria uma trilha diferente. Com 18 anos casou com uma mulher 25 anos mais velha. Uma relação que teve que esconder dos fãs quando se tornou ídolo da juventude. 

Descoberto por acaso, dando uma canja no Beco das Garrafas, em Copacabana, para os Brazilian Bitles. Neste dia, por acaso, se encontrava na boate João Araújo (o pai de Cazuza), direto musical da gravadora Polydor, que convidou o rapaz bonito e carismático para um teste. Ele passou e lançou um compacto com duas músicas de Lennon & McCartney, uma delas, Girl, virou Meu bem, o primeiro grande sucesso de Ronnie Von, o nome artístico que recebeu. Assim como a dupla que assina a biografia, grande parte dos que escrevem sobre Ronnie Von acredita mais na versão do que nos fatos. Ele causou menos impacto pela música e mais pelo visual, pela sua origem upper class, piloto de avião, de educação privilegiada, olhos verdes que competiam com os de Chico Buarque, ídolo da turma da MPB, ala rival a do iê iê iê, outro que também saiu de berço esplêndido. Ou seja, pela forma como foi vendido. O que chamam de psicodelia na sua obra, não passa de tropicalismo diluído. 

Ameaçado pela ascensão vertiginosa de Ronnie Von, e teria gravado Querem acabar comigo com um retrato do “Pequeno Príncipe (epíteto de Ronnie Von), diante dele no estúdio. A ameaça ao reinado de Roberto Carlos precisa ser contextualizada. Em 1966, cantor popular era estrela cadente, passava rápido. Na época, pois, é natural que Roberto tenha se preocupado com Ronnie Von e, talvez, tenha feito a canção como um desabafo, afinal há apenas dois anos ele tinha recebido a coroa de Rei da Juventude Brasileira.  Paulo Sérgio, que surgiria no ano seguinte, foi bem mais ameaçador do que o sofisticado Ronnie Von, era amigo dos Mutantes (batizados por ele), que citava livros, e cantava Beatles em inglês. Paulo Sérgio era, como Roberto do proletariado, e emplacou mais sucessos no primeiro LP, do que Ronnie em toda carreira. A marcha-rancho A praça (1967, Carlos Imperial), foi o maior, hit de Ronnie Von. Ele só voltaria às paradas na décadas seguinte com Cavaleiro de arruando (1972), e com Tranquei a vida (1977), seu ultimo grande sucesso . Hoje, aos 70 anos, é mais conhecido como apresentador de TV. 


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