Para alguns, o conceito de drag queens está restrito à ideia de homens vestindo-se com indumentária considerada feminina, emulando também comportamentos associados ao que se convencionava como “de mulher”. Esta ideia, no entanto, está sendo diluída, graças ao entendimento cada vez maior de que sexualidade e gênero são muito mais complexos do que o patriarcado costumava pensar. Nesse contexto, as drag queens assumem um papel de protagonismo na quebra desses padrões, expressando questões políticas (e também entretendo) através de sua arte. Fascinado pelo trabalho desses artistas, o fotógrafo pernambucano Fernando Cysneiros está desenvolvendo o projeto The Drag Series, no qual registra o trabalhos de artistas locais, nacionais e internacionais.
Realizado desde maio de 2016, o projeto já registrou cerca de 80 drags de 16 cidades e três países. “Por um lado, o projeto surgiu como um hobby. Por outro lado, ao longo de minha carreira, sempre trabalhei com foco em satisfazer as necessidades dos meus clientes, mas nunca tinha criado algo que eu tivesse total liberdade criativa. Vi no projeto minha chance de criar algo sem amarras. Durante o desenvolvimento (que ainda está em andamento e sem previsão de término), acabei viajando algumas vezes por conta de trabalhos ou apenas turismo, e decidi levar meu equipamento para registrar as drags das cidades pelas quais passei”, explica Fernando.
Ao lançar seu olhar para o trabalho dessas artistas, o fotógrafo contatou a pluralidade da arte drag, que não se conforma com regras de gênero ou sexualidade, preferindo desafiá-las. Com artistas como Pabllo Vittar, Glória Groove, Lia Clark, na música, performers, artistas, maquiadoras, estilistas, a arte drag se mostra vigorosa e cada vez mais presente na cultura de massa.
“A cena drag é muito plural para notar diferenças do tipo de acordo com a geografia, pelo menos no aspecto visual. Em toda cidade que visitei, sempre há artistas de diferentes estilos: as mais femininas, as mais monstras etc. O que noto é a diferença na área de atuação de trabalho, que muda conforme as oportunidades que cada cidade oferece”, avalia.
Em relação ao que o atrai no trabalho das drags e o que busca capturar com sua câmera, Fernando é enfático: “Tudo que envolve a arte drag, desde a transformação, a autoconfiança e a coragem de sair montada num país de povo tão preconceituoso como o Brasil”.