Como todos os mais importantes eventos históricos, a Revolução de 1817 não terminou depois dos 75 dias de República em Pernambuco e nos estados vizinhos. Seja no esquecimento intencional pela monarquia brasileira, na pouca presença em salas de aula ou no resgate promovido por pesquisadores, a história da Revolução do Padres continua sendo escrita e reavaliada. Nesta quinta (9), na Fundação Joaquim Nabuco, em Casa Forte, três historiadores conversam sobre o movimento, a partir das 17h.
A mesa-redonda, aberta ao público, é intitulada 1817: A Contestação da Ordem Monárquica. A historiadora Socorro Ferraz vai comentar no evento o tema Os Contos Loucos e as Fantásticas Carrancas – o nome é uma referência a termos usados por Luís do Rego Barreto, general que veio reprimir o movimento, que chamava os revolucionários pernambucanos de “carrancas” e seus ideais de “contos loucos”.
Além dela, outros dois pesquisadores participam da conversa. Flávio Cabral vai falar sobre A Missão Cabugá nos EUA: uma Página da Revolução Pernambucana, abordando a tentativa de obter apoio estrangeiro para a Revolução de 1817. Já o arquiteto e historiador José Luiz Mota Menezes, em Um Campo do Erário Régio, Dois Pátios e uma Revolução Republicana, vai comentar os locais e a arquitetura relacionados ao movimento. Quem ainda marca presença no evento é o senador Cristovam Buarque (PPS).
Além da mesa-redonda, o evento da Fundaj vai contar com o lançamento do livro Pernambuco, Imortal, Imortal! Devaneios de um Cronista Republicano do Século 19 (Fundação Astrogildo Pereira). Escrita pelo pernambucano Sérgio C. Buarque, colaborador deste JC, a obra cria uma ficção histórica – na verdade, uma especulação a partir do que poderia ter acontecido – baseada nos acontecimentos da Revolução de 1817.
Tudo ali é como aconteceu: a insatisfação com os impostos da coroa, a articulação entre militares, maçons e padres e reação impulsiva de Leão Coroado no dia 6 de março. A diferença é que a tentativa de resgate de Napoleão Bonaparte, um mero plano mirabolante dos revolucionários, teria saído do papel e o general francês aportaria de fato em Pernambuco.
No conto, é como se a empreitada de Cruz Cabugá, que navegou até os Estados Unidos para conseguir apoio, comprar armas e formar um exército, tivesse alcançado o objetivo maior: convencer Napoleão a aportar no Nordeste brasileiro para combater o seu velho inimigo, Dom João VI. No cenário imaginado por Sérgio C. Buarque, o general se encanta pela bandeira pernambucana (apesar de não gostar tanto da cruz, símbolo infeliz para uma estado laico, segundo ele) e busca organizar a defesa do território. Além disso, para organizar uma resistência de fato à Coroa, ele oferece alforria para os escravos entre 18 e 25 anos que aceitem batalhar ao lado dos revolucionários.
Ao imaginar um Napoleão que estranha os hábitos locais enquanto se encanta com Pernambuco, Sérgio C. Buarque faz essa sua “história especulativa”. O final, vale dizer, traz um “Viva Pernambuco” com um inconfundível sotaque francês.
Veja vídeo sobre a Revolução de 1817: